Parte 1
"Ahhh..."
A sensação de acordar é a pior.
Afinal, quando você acorda para ver
sua irmã dançando apaixonadamente num ritmo de samba enquanto pisa por todo seu
estômago, peito ou cabeça, diferente de um grupo especial de pessoas, ninguém
estaria feliz.
Segunda-Feira, 10 de abril.
Ontem foi o último dia das Férias
de Primavera, então hoje era dia de aula.
Enquanto esfregava os olhos turvos,
Shidou declarou numa voz baixa:
"Ahh, Kotori. Minha irmãzinha
fofa."
"Ohhhhh!?"
Só então ela finalmente notou que
Shidou estava acordado. A irmãzinha, com o pé ainda no estômago de Shidou—
Kotori, virou a cabeça enquanto ajeitava seu uniforme do ensino fundamental.
Seu cabelo comprido, separado em
duas chiquinhas, balançou quando ela olhou para Shidou através de seus olhos
redondos como bolotas.
Incidentalmente, mesmo tendo sido
apanhada pisando em alguém no início da manhã, ela não parecia estar xingando
secretamente, tipo "Merda!" ou "Fui pega!". Se alguma
coisa, parecia que estava honestamente feliz por Shidou ter acordado.
Oh, e da posição de Shidou, havia
uma visão deslumbrante das suas roupas de baixo.
Oh, e da
posição de Shidou, havia uma visão deslumbrante das suas roupas de baixo.
Não era como se não estivesse
apenas mostrando um vislumbre. Até falta de vergonha tem limites.
"O que é? Meu irmão
fofo!"
Kotori respondeu, sem mostrar
nenhum sinal de tirar o pé.
No caso de que esteja imaginando,
Shidou não é fofo.
"Bem, saia de cima de mim.
Você é pesada."
Kotori deu um aceno exagerado com a
cabeça e pulou da cama.
O estômago de Shidou caiu com o
impacto do golpe.
"Gfhu!"
"Ahahaha, gfhu!
Ahahahaha!"
"..."
Shidou silenciosamente puxou o
cobertor sobre sua cabeça.
"Ahh! Hey! Por que está
dormindo de novo!?"
Kotori aumentou sua voz, balançando
Shidou lentamente.
"Só mais dez minutos...”
"Não mesmo! Acorde
agora!"
Depois de sentar e fazer careta por
causa da tontura resultante de balançar a cabeça ainda atordoada, Shidou abriu
a boca com um gemido.
"F-fuja..."
"Eh?"
"...Na verdade, eu fui
infectado com o 'se eu não dormir por mais dez minutos, vou fazer cócegas na
minha irmã, o também conhecido como C-Vírus..."
"O-o quê!?"
Kotori estava surpresa como alguém
que houvesse acabado de encontrar uma mensagem de aliens escondida.
"Fuja... enquanto eu ainda
posso me controlar..."
"M-Mas, o que você vai
fazer!?"
"Não se preocupe comigo...
enquanto você estiver segura..."
"Não mesmo! Irmão!"
"Gaaaaahh!"
"Kyaaaaaaaaaaaaaa!"
Shidou jogou o cobertor, movendo
animadamente as duas mãos e rugindo, enquanto Kotori corria com um grito medonho.
"...Sigh"
Expirando, ele se cobriu com a
coberta de novo. Olhando o horário, viu que ainda eram antes das 6.
Resmungando, subitamente lembrou-se
de algo.
Com o seu cérebro meio adormecido
acordando lentamente, as memórias da última noite ressurgiram.
Ambos os seus pais saíram numa
viagem de trabalho ontem.
Por causa disso, Shidou foi
temporariamente deixado a cargo da cozinha, e então Shidou, que era ruim para
acordar, pediu a Kotori para ajudá-lo.
"Ah..."
Incomodado que pudesse ter feito
alguma coisa ruim, ele rapidamente saiu da cama.
Segurando o cabelo pós-acordar e
suprimindo um bocejo, Shidou se arrastou para fora do quarto.
Nesse momento, o pequeno espelho
pendurado na parede chamou sua atenção.
Um garoto cuja franja estava para
invadir sua visão, provavelmente porque ele não havia cortado o cabelo fazia um
bom tempo, estava projetando uma aparência idiota de Shidou.
"..."
Junto com sua visão decadente, sua
aparência também estava levemente degradante. Suspirando, desceu as escadas e
entrou na sala.
"...Huh?"
Uma visão levemente diferente da
normal o recebeu.
A mesa de madeira que estava no
meio da sala, agora estava de lado, como se tivesse virado uma barricada. Atrás
disso, uma cabeça com marias-chiquinhas estava tremendo levemente.
"..."
Silenciando seus passos, Shidou se
aproximou do lado da mesa.
Certamente, Kotori estava sentada
abraçando seus joelhos e tremendo.
"Graaaaaahh!"
"Kyaa!Kyaaaaaa!"
Quando Shidou agarrou-a pelos
ombros, Kotori soltou um grito desesperado enquanto suas pernas ficaram moles.
"Calma, calma! Eu sou meu eu
normal."
"Gyaaa!Gyaa...ah?
I-Irmão?"
"Aham, exato."
"Você...Você não é mais
assustador?"
"Está tudo bem agora. Eu sou
amigo da Kotori."
"Oh, ohhhhhh."
Quando Shidou falou na sua voz de
bebê, seu rosto angustiado relaxou lentamente.
Era como se ela fosse um esquilo
Fox que houvesse tido seu coração aberto.
"Desculpa, desculpa. Eu vou
fazer o café da manhã agora mesmo."
Depois de soltar a mão de Kotori e
levantar, Shidou botou a mesa de volta ao lugar que pertencia e entrou na
cozinha.
Trabalhando na grande companhia de
eletrônicos que ambos construíram, os pais de Shidou frequentemente estavam
longe de casa ao mesmo tempo.
Nessas horas, sempre era
responsabilidade de Shidou preparar a comida, então ele já estava acostumado
com isso. Na verdade, ele estava confiante de que poderia usar as ferramentas
de cozinha melhor que sua mãe.
Enquanto Shidou fritava alguns ovos
na frigideira, ouvia o som da TV vindo por detrás dele. Parecia que Kotori
tinha se acalmado e ligado a TV.
Pensando nisso, parecia que Kotori
tinha uma rotina diária de comer enquanto checava horóscopos ou rodas da
fortuna.
Bem, a maioria das rodas da fortuna
vinha no final dos programas principais, e que são obviamente apenas
especulações. Depois de passar por todos os canais, Kotori começou a assistir o
que parecia ser um programa chato de notícias.
"-Hoje de manhã cedo, no
subúrbio da cidade de Tenguu—"
"Huh?"
Ao ouvir o conteúdo do programa de
notícias inútil que normalmente poderia servir apenas como BGM], Shidou levantou uma sobrancelha.
A razão era simples. Vinda da voz
clara da anunciante, ele ouviu o nome de uma rua familiar.
"Nnn? É bem perto daqui.
Alguma coisa aconteceu?"
Debruçando-se sobre o balcão, ele
estreitou sua visão e encarou a TV.
Na tela, a imagem de uma rua que
havia sido absurdamente destruída estava sendo exibida.
Prédios e ruas haviam sido
reduzidos a montanhas de pedregulhos.
A devastação era como o impacto de
um meteorito ou talvez a cena de um ataque aéreo.
Shidou encolheu os ombros, e
soltando a respiração, disse:
"Ahhh... Então isso foi um
spacequake."
Como se cansado, balançou a cabeça.
Um 'space earthquake' se refere ao
fenômeno do tremor de uma grande área.
Era um termo genérico dado a
explosões, terremotos, desaparecimentos e coisas do tipo, que ocorrem por
motivos desconhecidos em horários e lugares aleatórios.
Isso aconteceu bem no meio da
Eurásia- a região que continha países como a União Soviética, China e Mongólia
desapareceu apenas numa noite.
Para a geração de Shidou, só olhar
as fotos do livro texto era desagradável.
Era como se tudo sobre o chão
tivesse sido raspado, deixando absolutamente nada para trás.
O número de vítimas era de cerca de
150 milhões. Foi a maior catástrofe mortal na história humana. Nos seis meses
que se seguiram, incidentes similares ocorreram em uma escala menor ao redor do
mundo.
Shidou não conseguia lembrar o
número exato, mas foram cerca de 50.
Em terra, nos pólos, no oceano, até
em pequenas ilhas, esses casos foram confirmados.
Claro, Japão não era uma exceção.
Seis meses depois do "Eurasia
Sky Disaster", a região de Tokyo do Sul até a Prefeitura de Kanagawa virou
um círculo de terra queimada, como se uma borracha tivesse apagado tudo.
Exatamente— isso inclui a área que
Shidou está vivendo hoje em dia.
"Mas isso subitamente parou de
acontecer por um tempo, certo? Por que isso voltou a ser frequente?"
"Eu me pergunto por
que...?"
Com a pergunta de Shidou, Kotori,
ainda encarando a TV, inclinou a cabeça.
Depois do acidente em Kanto do Sul,
spacequakes não haviam sido detectados por um tempo.
Entretanto, cinco anos atrás,
começando num canto da reconstruída Cidade Tenguu, esses fenômenos misteriosos
começaram a aparecer aqui e ali de novo.
De qualquer maneira, a maioria
deles aconteceu no— Japão.
Claro que os humanos não ficaram
sentados sem fazer nada durante esses 25 anos entre esses eventos.
Começando trinta anos atrás nas
áreas em que a reconstrução foi terminada, abrigos subterrâneos se espalharam
numa velocidade explosiva.
Junto com o fato de que se tornou
possível observar precursores de spacequakes, uma equipe de respostas á
desastres, certificada pela JSDF], foi criada.
O propósito deles é viajar pelas
áreas de desastre e reconstruir as estradas e instalações destruídas, mas seu
trabalho pode ser apenas descrito como mágica.
Depois de tudo, as estradas
completamente destruídas podem, em um período insanamente curto, serem restauradas
para como costumavam ser.
Seu trabalho foi classificado como
super secreto, então nenhuma informação foi disponibilizada ao público, mas
quando vê um prédio desabado ser restaurado numa noite, você não pode evitar em
sentir como se tivesse visto um truque de mágica.
De qualquer maneira, mesmo se o
trabalho de reconstrução pudesse ser feito realmente rápido, isso não significa
que houvesse uma pequena ameaça dos spacequakes.
"Não parece que a área ao
redor daqui tem tido um monte de spacequakes? Principalmente ano passado."
"..Hmm, parece que sim, huh.
Talvez seja um pouco cedo..."
Kotori murmurou, enquanto apoiava a
parte superior do corpo nos braços do sofá.
"Cedo? O que?"
"Nnn..., nada."
Dessa vez Shidou quem inclinou a
cabeça.
Não por causa do que Kotori disse,
mas sim porque a última metade da frase parecia um pouco abafada.
"..."
Silenciosamente, ele circulou em
torno do balcão e andou em direção ao sofá em que Kotori estava apoiada.
"Kotori, vire para cá por um
instante."
"..."
*bonk*
"Guhh!"
Kotori segurou a cabeça com as mãos
e virou com um solavanco. Um barulho estranho veio da sua garganta.
Mesmo que fosse um pouco antes do
café da manha, Kotori tinha seu lanche favorito, um Chupa Chups, na boca.
"Hey! Eu já não te disse para
não comer lanches antes das refeições?"
"NNNnnn! NNNnnnnn!"
Levando embora o doce e trazendo um
bastão, ele encontrou Kotori tentando resistir fazendo beicinho.
Shidou ficou tenso quando olhou
para onde estava para bater, já que ele não queria realmente bater em alguém
com essas características tão fofas.
“... Jeez. Você deveria comer seu
café propriamente!"
No final, foi Shidou quem cedeu.
Coçou a cabeça de Kotori e voltou para a cozinha.
"Ohh! Eu te amo irmão!"
Shidou acenou adequadamente as mãos
e voltou ao trabalho.
"..Agora que penso nisso, hoje
é a cerimônia de abertura do ensino médio, certo?"
"Certo~"
"Então você volta na hora do
almoço... Kotori, algum pedido?"
Depois de Kotori pensar sobre isso
com um "Hmmmmm", balançou a cabeça e subitamente levantou.
"Prato Infantil Deluxe!"
Essa era uma opção oferecida em um
restaurante familiar próximo.
Shidou endireitou o corpo e assim
deu uma reverência de desculpas.
"Isso não pode ser preparado
nessa loja."
"Ehh~"
Enquanto chupava um pirulito,
Kotori respondeu com uma voz insatisfeita.
Shidou deu um suspiro alto e
encolheu os ombros.
"Tanto faz, não há nada que eu
possa fazer. É uma ocasião especial, então vamos almoçar fora."
"OHHH! Sério?!"
"Sim. Então vamos nos
encontrar no restaurante familiar de sempre depois do colégio."
Shidou disse e Kotori esfregou as
mãos em excitação.
“Não volte com a sua palavra! É uma
promessa! Você tem que estar lá nem que um terremoto comece, ou uma erupção
vulcânica, ou um spacequake aconteça, ou o restaurante esteja ocupado por
terroristas!
"Não, se tiverem terroristas
lá nós não vamos comer."
"Você tem que estar lá!"
"Certo, certo, entendi."
Ouvindo Shidou dizer isso, Kotori
levantou vigorosamente as mãos no ar com um "Whooooo~!"
A partir de hoje à noite, eles
teriam que comer em casa por um tempo, mas era a cerimônia de abertura para os
dois. Toda essa luxúria estaria ok.
Bem, quem sabe se um almoço de
crianças que custa 780 yen realmente conta como luxo.
"Nnnn..."
Shidou se esticou levemente e abriu
a janelinha da cozinha.
O céu estava claro. Parecia que
aquele seria um dia bom.
Parte 2
Eram em torno de 8:15 da manhã
quando Shidou chegou no colégio.
Depois de verificar a lista das
salas posta no corredor, entrou na sala onde passaria seu próximo ano.
"Segundo ano, Classe 4,
huh?"
Desde o spacequake há trinta anos,
a região de Tóquio do Sul até a Prefeitura de Kanagawa— em outras palavras, a
região de terra vazia criada pelo spacequake, foi reconstruída como
cidades-teste, usando várias técnicas novas.
O colégio público que Shidou
frequentava, Raizen High School, era um exemplo.
Cheio de facilidades para se
orgulhar, aquele colégio que ninguém acreditaria que fosse público, foi
construído apenas alguns anos atrás, então ainda estava em perfeitas condições.
Claro, sendo um colégio construído numa área de desastres antiga, veio equipado
com o mais novo tipo de abrigo subterrâneo.
Por essas razões, a taxa de
requerimento era alta, então Shidou, que decidiu entrar no colégio apenas por
"ser perto de casa", teve que trabalhar duro.
"Mmmm..."
Com um zumbido leve, inspecionou a
sala.
Ainda havia um pouco de tempo antes
da hora da aula, mas boa parte das pessoas já havia se reunido.
Haviam pessoas exultantes por
estarem na mesma classe, pessoas sentadas sozinhas parecendo entediadas, e
pessoas com vários outros tipos de reação... mas não parecia haver ninguém que
Shidou conhecesse.
Enquanto Shidou movia sua cabeça
para verificar o mapa de assentos no quadro,
"—Itsuka Shidou."
Inesperadamente, detrás dele, uma
voz calma falou monotonamente.
"Huh...?"
Ele não reconheceu a voz. Curioso,
virou.
Uma menina magra estava lá.
A garota tinha um cabelo que mal
chegava ao ombro e um rosto que parecia de boneca.
Provavelmente não existe alguém que
possa descrever melhor como "estilo-boneca".
Embora nobre como uma criatura
precisamente artificial, ao mesmo tempo, seu rosto não parecia conter nenhum
tipo de emoção.
"Eh...?"
Shidou rapidamente olhou ao redor
da sala, e inclinou a cabeça.
"...Eu?"
Como não conseguia achar nenhum
outro Itsuka Shidou por perto, ele apontou para si mesmo.
"Sim."
Sem nenhum sentimento especial, a
garota imediatamente respondeu, dando um breve aceno em direção a Shidou.
"Por que você sabe meu
nome...?"
Shidou perguntou, e a garota, como
se confusa, inclinou a cabeça.
"Você não lembra?"
"...Uhm."
"Entendi."
Shidou hesitou em responder, e a
garota, parecendo particularmente deprimida, deu um breve comentário e andou
até uma carteira perto da janela.
"O que... está acontecendo,
exatamente?"
Shidou coçou o rosto e franziu a
testa.
No caso, parecia que ela conhecia
Shidou, mas teriam eles se encontrado em algum lugar antes?
*pow*
"Gefhuu!"
Enquanto Shidou estava imerso em
seus pensamentos, um tapa magnífico acertou suas costas.
"O QUE ESTÁ FAZENDO,
TONOMACHI!?"
Ele imediatamente reconheceu quem
era o agressor, e gritou enquanto esfregava as costas.
"Hey, você parece bastante
animado, sua besta sexual Itsuka."
O amigo de Shidou, Tonomachi
Hiroto, antes mesmo de ficar animado por estar na mesma sala que ele, como se
para mostrar seu cabelo encerado e corpo musculoso, cruzou os braços e inclinou
o corpo levemente enquanto ria.
"...Sex... O que você
disse?"
"Besta sexual, seu bruto. Eu
tirei meus olhos de você só por um momento e você ficou todo atirado. Quando e
como você se aproximou da Tobiichi, huh?"
Envolvendo seus braços em torno da
cabeça de Shidou enquanto sorria, Tonomachi perguntou.
"Tobiichi...? Quem é
essa?"
"Vamos, não aja como um
idiota. Agora mesmo vocês estavam conversando animadamente, não estavam?"
Tonomachi apontou o queixo para a
carteira perto da janela.
E lá estava sentada a garota de
antes.
Como se notando que estavam a
encarando, a garota ergueu os olhos do livro, virando para olhar para eles.
"..."
A respiração de Shidou ficou presa
em sua garganta enquanto desviava os olhos estranhamente.
Por outro lado, Tonomachi estava
sorrindo e acenando de uma maneira excessivamente familiar.
"..."
A garota, sem demonstrar nenhuma
reação particular, voltou o olhar para o livro em suas mãos.
"Aí, olhe, ela é sempre desse
jeito. De todas as garotas, ela é a mais difícil, sendo comparada com a Guerra
Fria, ou Mahyadedosu. Como diabos você conseguiu fazê-la falar com você?"
"Huh...? D-Do que você está
falando?"
"Mentira, você realmente não
sabe?"
"...Hmm, ela realmente estava
na nossa sala ano passado?"
Ao Shidou dizer isso, Tonomachi
segurou as mãos em uma pose "Eu não acredito nisso", fazendo uma
expressão surpresa. Ele era alguém que gostava de imitar as reações dos
Westerners.
"Vamos lá, cara, é Tobiichi,
Tobiichi Origami. Ela é a super gênio que o nosso colégio se vangloria. Você
nunca ouviu de nada sobre isso?"
"Não, essa é a primeira vez
que ouço falar sobre isso... ela é mesmo tão incrível assim?"
"Nem incrível pode
descrevê-la. Suas notas estão sempre nos primeiros lugares do ano, e no
simulado há pouco tempo atrás, ela teve uns resultados loucos e foi direto pro
topo da nação."
"Huuuh? Por que alguém assim
está num colégio público?"
"Não sei. Provavelmente alguma
coisa como circunstâncias familiares?"
Dando de ombros, Tonomachi
continuou.
"De qualquer jeito, isso não é
tudo, as notas de EF dela também estão sempre no topo, e ao mesmo tempo ela é
bonita. No 'Ranking das Namoradas Mais Desejadas - Treze Melhores' do último
ano, ela ficou em terceiro, eu acho. Você não viu?"
"Eu nem sabia que existia alguma
coisa assim. Ou melhor, as treze melhores? Por que esse número?"
"Porque a garota que organizou
isso tinha treze anos."
"...Aaah."
Shidou riu fracamente.
"Falando nisso, o 'Ranking dos
Namorados Mais Desejados' chegou aos 358 melhores."
"Tudo isso!? O final dele está
perto da pior colocação possível, não é? O organizador que decidiu isso
também?"
"Ahh. Ele realmente não sabia
quando desistir."
"Em que lugar você está,
Tonomachi?"
"No 358º lugar."
"O organizador era
você!?"
"Os motivos para que eu ficasse
nessa colocação incluíam: 'sua paixão parece ser bem forte', 'ele parece ser
peludo' e 'suas unhas devem cheirar mal'."
"Como eu pensava, esse é a
pior colocação!"
"Bem, abaixo disso tem apenas
as pessoas que ninguém votou. Pelo menos com pontos mínimos eu consegui
vencer."
"Isso está chegando um pouco
longe demais! Com um rank desses, seria melhor desistir."
"Não se preocupe, Itsuka. Você
foi posto como Sr. Anônimo e ganhou um voto e o 52º lugar."
"Resposta errada!"
"Bem, outras razões incluem:
'ele não parece se interessar por mulheres' e 'para ser honesto, ele parece ser
homo'."
"É um martelo de ferro
trazendo morte por calúnia irracional!"
"Apenas acalme-se. Na
"Escolha Fujoshi dos Melhores Casais", eu e você estamos no topo do
ranking como um casal."
"EU NÃO ESTOU NEM UM POUCO
FELIZ COM ISSO!"
Shidou gritou. Ele estava levemente
preocupado em fazer parte do casal, em primeiro lugar.
De qualquer maneira, parecia que
Tonomachi não se importava nem um pouco (ou melhor, parecia ter superado isso),
quando cruzou os braços e voltou ao assunto.
"Bem, de qualquer maneira, não
é exagero dizer que ela é a pessoa mais famosa do colégio. Itsuka, sua
ignorância consegue surpreender até mesmo esse grande Tonomachi."
"Que tipo de personagem você
está tentando ser?"
Ao Shidou dizer isso, o sinal
familiar que ele tem ouvido desde seu primeiro ano tocou.
"Oops."
Agora que pensava nisso, ele ainda
não tinha confirmado sua carteira.
Shidou seguiu o mapa escrito no
quadro e colocou a mochila na carteira de dois lugares ao lado da janela.
Logo depois, ele notou.
"...Ah"
Como se por uma ironia do destino,
a carteira de Shidou era ao lado do da pessoa no topo do ano.
Tobiichi Origami fechou e guardou o
livro assim que o sinal parou de tocar.
Ela então sentou olhando
diretamente para frente, com uma postura tão bonita como se medida com uma
régua.
"..."
Sentindo-se um pouco estranho por
algum motivo, Shidou voltou os olhos para o quadro, como Origami também havia
feito.
Como se combinado, a porta da sala
abriu com um estrondo. De lá, saiu uma mulher baixa usando óculos de aros
finos, que andou até a mesa da professora.
Ao redor, os alunos estavam
sussurrando animadamente.
"Então é a Tama-chan..."
"Ah, é a Tama-chan."
"Sério? Yeahh!"
-No geral, coisas boas estavam
sendo ditas.
"Certo, bom dia á todos. Nesse
ano, eu vou ser a professora de todos dessa sala, meu nome é Okamine
Tamae."
A professora de estudos sociais,
Okamine Tamae- apelidada por Tama-chan- falou em um ritmo lento e se curvou.
Talvez tenha se curvado um pouco demais, pois os óculos escorregaram um pouco,
ao que ela colocou no lugar rapidamente.
Seu rosto de criança e corpo
pequeno que não podia nem passar em ser da mesma geração dos seus alunos,
combinado com sua postura descontraída, tornavam-na bastante popular entre os
alunos.
"...?"
No meio dos alunos animados, a
expressão de Shidou endureceu.
Sentada do lado esquerdo de Shidou
estava Origami, que estava encarando na sua direção intensamente.
"..."
Por um momento, seus olhos se
encontraram. Shidou rapidamente desviou os olhos.
Por que ela estava encarando
Shidou- não, ela poderia não estar encarando ele, havia a possibilidade de que
fosse alguma coisa atrás dele, mas no momento Shidou não conseguia se acalmar.
"...O-o quê exatamente está
acontecendo...?"
Ele murmurou silenciosamente,
enquanto uma gota de suor descia pelo seu rosto.
Desde então, aproximadamente três
horas se passaram.
"Itsuka~, você não tem nada
para fazer de qualquer maneira, certo, que arranjarmos alguma coisa para
comer?"
A cerimônia de abertura tinha
acabado, e enquanto os alunos terminavam de arrumar as coisas e saíam da sala,
Tonomachi, com a mochila pendurada no ombro, começou a conversar.
Além do período de testes, era raro
a escola terminar de manhã. Aqui e ali, grupos de amigos estavam discutindo
aonde ir para almoçar.
Shidou estava prestes a acenar, mas
com um "ah" ele parou.
"Desculpe. Eu tenho planos
para hoje."
"O QUÊ? Uma garota?"
"Ahhh, bem... sim."
"MENTIRA!"
Tonomachi fez um V com os braços
enquanto levantava o joelho, fazendo uma pose parecida com o Glico
"O que diabos aconteceu nas
férias de primavera!? Você não está satisfeito nem depois de ter sido capaz de
falar com a Tobiichi, e agora fez uma promessa de almoçar com uma garota!? Nós
não prometemos virar mágicos juntos!?"
"Não, eu não me lembro dessa
promessa... e de qualquer forma, é apenas a Kotori."
Shidou respondeu, e Tonomachi deu
um suspiro aliviado.
"Que merda, não me
assuste!"
"Você quem tomou conclusões
precipitadas."
"Meh, se é a Kotori-chan então
não tem problema. Posso ir junto?"
"Mm? Ahh, acho que tudo
bem..."
Logo que Shidou terminou, Tonomachi
colocou os cotovelos na mesa de Shidou e falou em voz baixa.
"Hey hey, Kotori-chan está no
segundo ano do ensino fundamental, certo? Estaria tudo bem em ela arranjar um
namorado ou alguma coisa por agora?"
"Huh?"
"Uhum, não tem nenhum
significado oculto por trás disso, mas o que Kotori-chan pensaria sobre um
garoto três anos mais velho que ela?"
"...Na verdade, esquece. Não
ouse vir junto."
Shidou estreitou os olhos e
empurrou de volta rosto de Tonomachi, que havia chegado mais perto.
"Haha. No caso, eu não sou tão
idiota a ponto de perturbar seu feliz encontro entre irmãos. Eu tento jogar
seguindo as regras."
"Você sempre diz um pouco mais
do que deveria."
Agarrando as bochechas, Tonomachi
fez uma expressão inesperada enquanto falava.
"Mas cara, você não acha a
Kotori-chan super fofa? Poder morar sob o mesmo que ela deve ser
incrível."
"Se você realmente tivesse uma
irmã mais nova, acho que iria definitivamente mudar de opinião."
"Ah... Você ouve muito isso.
Então é verdade que pessoas com irmãs mais novas não tem esses fetiches?"
"É, elas não são garotas. São
apenas criaturas chamadas irmãzinhas."
Shidou afirmou fortemente e
Tonomachi sorriu timidamente.
"Esse é realmente o caso, huh?"
"Esse é realmente o caso. Se
você tentar encontrar algo que não é exatamente uma garota, seria provavelmente
uma irmã mais nova."
"E irmãs mais velhas?"
"..Onnashi?"
"Wooow, uma mulher da
cidade!"
Rindo, Tonomachi respondeu.
-Nesse momento.
UUUUUUUuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu—————
"Huh!?"
A janela da sala balançou
violentamente enquanto uma sirene soava desagradavelmente pelas ruas.
"O-O que está
acontecendo?"
Tonomachi abriu a janela e olhou lá
fora. Surpreso pela sirene, um incontável número de corvos voaram para o céu.
Os alunos que permaneceram na sala
pararam de conversar e olharam fixamente, com os olhos arregalados.
Seguindo a sirene, uma voz mecânica
que pausava depois de cada palavra, provavelmente para facilitar o entendimento,
saiu.
"—Isso, não é, um teste. Isso,
não é, um teste. O antechoque, foi, observado. A ocorrência, de um spacequake,
foi prevista. Pessoas da vizinhança, por favor, movam-se para o abrigo mais
próximo, imediatamente. Repito—"
Nesse instante, a sala silenciosa
se encheu de arquejos dos alunos.
—Alerta de spacequake.
O palpite de todos foi confirmado.
"Oi oi... Sério?"
Tonomachi pronunciou numa voz seca
enquanto suava profusamente.
De qualquer maneira, em termos de
tensão e aflição, Shidou, Tonomachi e os outros alunos da sala, estavam
relativamente calmos.
Pelo menos nenhum dos alunos
parecia ter entrado em pânico.
Depois dessa cidade ter sido
destruída severamente pelo spacequake trinta anos atrás, crianças como Shidou
foram treinadas persistentemente em exercícios de evacuação desde o jardim de
infância.
Além disso, aquilo era um colégio.
Existia um abrigo subterrâneo que caberia todos os alunos.
"O abrigo está bem aqui. Se
nós calmamente nos escondermos, então vai ficar tudo bem."
"C-Certo, está certo."
Tonomachi assentiu com as palavras
de Shidou.
O mais rápido possível sem correr,
eles saíram da sala.
O corredor já estava cheio com os
alunos formando uma fila em direção ao abrigo.
"Tobiichi...?"
Exatamente, correndo pelo corredor
com a saia esvoaçando, estava Tobiichi Origami.
"Hey! O que você está
fazendo!? O abrigo é na outra direção—"
"Eu estou bem."
Origami parou por um instante,
dizendo apenas isso e, mais uma vez, voltou a correr.
"Bem... o quê...?"
Intrigado, Shidou virou a cabeça e
se juntou á fila de alunos com Tonomachi.
Ele estava levemente preocupado com
Origami, mas talvez ela simplesmente houvesse esquecido alguma coisa e voltou
para pegar.
Na verdade, mesmo que o sinal tenha
sido emitido, não significava que um spacequake aconteceria imediatamente. Se
ela voltasse rápido, então ficaria bem.
"A-Acalmem-se por favooor! É,
assim mesmo, beeem devagaar! Lembrem se 'okashi', O-Ka-Shi! Não empurrem, não
corram!”
Da frente da fila, a voz de Tamae
ecoou, direcionada aos alunos.
Ao mesmo tempo, risadinhas saíam
dos estudantes.
"...Vendo alguém que está mais
afobado que eu me acalma por algum motivo."
"Ahh, eu meio que entendo o
que você quer dizer."
Shidou deu uma risada leve, e
Tonomachi respondeu com uma expressão similiar.
Diante de um professora que parecia
completamente insegura como Tama-chan, mais do que inseguros, na verdade a
tensão dos alunos parecia ter sumido.
E assim, Shidou lembrou-se de certa
coisa, procurou o bolso e tirou o celular.
"Hm? O que foi Itsuka?"
"Nada. Licença por um
instante."
Enquanto ignorava a pergunta,
selecionou o nome 'Itsuka Kotori' na lista de contatos e discou.
Entretanto— não atendia. Todas as
vezes que tentou, o resultado foi o mesmo.
"...Merda. Será que ela
conseguiu evacuar?"
Se ela ainda não houvesse deixado o
colégio então estaria tudo bem.
O problema era que havia a
possibilidade que ela houvesse deixado o colégio e estivesse indo para o
restaurante familiar.
Na verdade, deveria ter abrigos
públicos por perto, então normalmente não teria problema... mas por alguma
razão Shidou simplesmente não conseguia se livrar daquele sentimento sinistro.
Ignorando o fato de que o alerta já
havia sido emitido, por algum motivo a imagem de Kotori esperando Shidou como
um cachorrinho obediente surgiu em sua mente.
Na sua cabeça, as palavras de
Kotori, "É uma promessa!" giravam e ecoavam.
"B-Bem, nós fizemos uma
promessa absoluta de nos encontrarmos mesmo se um spacequake acontecesse,
mas... nem ela é tão estúpida assim... Oh, certo, ainda tem isso."
O celular de Kotori devia ter um
serviço de GPS instalado.
Manipulando seu celular, o GPS
mostrou um mapa da cidade na tela, que tinha um ícone vermelho marcado.
"..."
Vendo isso, a garganta de Shidou
travou.
O ícone que mostrava a localização
de Kotori estava exatamente na frente do restaurante familiar prometido.
"Aquela idiota..."
Amaldiçoando, guardou o celular sem
desligar a tela e deslizou para fora da fila de alunos.
"H-Hey, onde você está indo,
Itsuka!?"
"Desculpe! Eu me esqueci de
algo! Vá na frente!"
Respondendo Tonomachi enquanto ia
na outra direção, ele correu em direção á entrada contra o fluxo da fila.
Desse jeito, Shidou rapidamente
trocou os sapatos, e quase caindo para frente, correu para fora.
Passado o portão, ele desceu a
colina em frente ao colégio.
"...Desde que a situação ficou
desse jeito, nós vamos apenas avaliar normalmente...!"
Correndo o mais rápido que podia,
Shidou gritou.
Espalhando-se na vista de Shidou,
havia uma cena muito estranha.
Estradas sem carros em movimento,
uma cidade desprovida de todos os sinais de pessoas.
Nas ruas, nos parques, até mesmo
nas lojas de conveniência, não restou nem uma pessoa.
A presença das pessoas que estavam
aqui alguns minutos atrás foi deixada para trás, suas figuras simplesmente
desapareceram.
Era como um filme de terror.
Desde o desastre há trinta anos,
aquela era a Cidade Tenguu que havia sido reconstruída cuidadosamente enquanto
lidava nervosamente com os spacequakes. Ignorando as facilidades públicas, até
mesmo a porcentagem de famílias normais ganhando um abrigo são as maiores do
país.
Por causa da frequência dos
spacequakes recentemente, as pessoas evacuaram rápido.
Mas mesmo assim...
"Porque essa idiota teimosa
está esperando lá...!"
Ele soltou um grito e abriu o
celular enquanto continuava correndo.
O ícone que mostrava a posição de
Kotori permaneceu na frente do restaurante familiar.
Enquanto decidia qual seria a
punição de Kotori, continuou mexendo os pés em alta velocidade em direção ao
restaurante familiar.
Ele não estava fazendo nada como
regular o passo ou alguma coisa assim. Apenas correu implacavelmente para o
restaurante familiar o mais rápido que podia.
Seus pés doíam e as pontas dos seus
dedos ficaram dormentes.
Sua cabeça estava atordoada, a
garganta começou a colar, e um ruído podia ser ouvido de dentro da sua boca.
Entretanto, Shidou não parou.
Coisas como perigo ou cansaço não entravam na sua mente, já que estava cheia
com um único pensamento: o de chegar onde Kotori estava.
Mas—
"...?"
Enquanto corria, Shidou olhou para
cima. Ele pensou ter visto alguma coisa se mover na borda da sua visão.
"O que são... esses..."
Shidou franziu as sobrancelhas.
Haviam três... talvez quatro. No
céu, coisas que parecia com humanos estavam flutuando.
Mas Shidou imediatamente parou de
ligar para isso.
O motivo—
"Uwaahhh...!?"
Shidou instintivamente cobriu os
olhos.
A rua á sua frente foi subitamente
engolfada com uma luz ofuscante.
Seguido por uma explosão
ensurdecedora e uma onde de choque violenta, que atingiu Shidou.
"O qu-"
Shidou reflexivamente cobriu o
rosto com os braços e colocou a força nas pernas, mas foi inútil.
A pressão do vento, que era como a
de um tufão, soprou e tirou-lhe o equilíbrio, fazendo-o cair para trás.
"Que... O que diabos
aconteceu...?"
Enquanto esfregava os olhos que
continuavam piscando, ele empurrou seu corpo para cima.
"-Huh—"
Vendo a paisagem que se espalhava
pela sua visão, Shidou soltou um ruído de surpresa.
Depois de tudo, a rua que estava
logo na sua frente alguns momentos atrás, no breve período em que Shidou fechou
os olhos— Sem deixar nada para trás, ela simplesmente 'desapareceu'.
"O-O que é isso, o que diabos
aconteceu, isso é..."
Ele murmurou, em transe.
Não importa que metáfora você use,
não seria uma piada.
Era como se um meteorito tivesse
caído na terra.
Não, se alguma coisa, era como se
tudo no chão houvesse desaparecido completamente.
A rua á sua frente havia sido
raspada na forma de uma tigela rasa.
E, na esquina da rua que havia se
tornado uma cratera—
Havia alguma coisa como um
amontoado de metal, que subiu.
"O que...?"
Por causa da distância, não
conseguia discernir os mínimos detalhes, mas— ele viu que a forma era alguma
coisa parecia com o trono que um rei de RPG sentaria.
Entretanto, isso não era o
importante.
Havia uma garota usando um vestido
estranho, que parecia estar de pé sobre o trono com o pé no braço (do trono).
"Essa garota— porque ela está
em um lugar como esse?"
Ele podia apenas ver vagamente, mas
conseguia identificar o cabelo preto longo e a saia que estava radiante com um
brilho misterioso. Provavelmente não estava errado sobre ela ser uma garota,
entretanto.
A garota examinou casualmente a
área, virando subitamente o rosto em direção á Shidou.
"Un...?"
Ela notou Shidou... Provavelmente.
Era muito longe, então ele não podia dizer exatamente.
Como Shidou estava intrigado com
isso, a garota se movimentou mais.
Com um movimento oscilante, ela
parecia ter agarrado algo que estava crescendo detrás do trono, e lentamente
foi puxando-o.
Aquilo era— com uma lâmina larga,
uma espada enorme.
Emitindo um brilho ilusório como o de
um arco-íris ou de uma estrela, era uma lâmina curiosa.
A garota sacudiu a lâmina e a
trilha que deixou traçou um caminho tênue de luz.
E depois—
"Eh...!?"
A garota encarou Shidou, e com um
braço, balançou a espada horizontalmente.
Ele instantaneamente abaixou a
cabeça. Não, colocando com mais precisão, os braços de Shidou, que estavam
sustentando seu corpo, perderam a força, e como resultado, a parte superior do
seu corpo caiu.
"O qu-"
O rastro da lâmina passou pelo
lugar onde estava a cabeça de Shidou.
Claro, não era uma distância que
uma espada podia alcançar fisicamente.
Entretanto, ela certamente—
"...Haah—"
Com os olhos bem abertos, Shidou
virou a cabeça para trás.
As casas, as lojas, as árvores á
beira da estrada, os sinais e assim por diante, que estavam atrás de Shidou,
foram cortados na mesma altura.
Um segundo depois, o som de
destruição ecoou como um trovão distante.
"Eeek...!?"
Aquilo tinha ido além da
compreensão de Shidou. Tremendo, seu coração apertou.
-Qual o significado disso?
A única coisa que ele entendeu era
que se não tivesse abaixado a cabeça naquele momento, agora estaria que nem a
cena atrás dele, relativamente reduzida.
"P-Pare de brincar
comigo...!"
Como se puxando um corpo que
houvesse sido cortado na cintura, Shidou se arrastou para trás. Assim que possível e na medida do possível, eu
tenho que sair desse lugar...!
Entretanto.
"-Você também... huh"
"...!?"
Uma voz extremamente cansada saiu
de cima da sua cabeça.
Sua visão, que estava um pouco
atrasada, agarrou-se com seus pensamentos.
Na frente dos seus olhos, estava a
garota que a um momento atrás não estava ali.
Exatamente, era a mesma garota que
estava no meio da cratera agora a pouco.
"Ah—"
Intencionalmente, sua voz saiu.
Ela devia ter mais ou menos a mesma
idade de Shidou, ou talvez fosse um pouco mais nova.
Dentro do seu cabelo que ia até o
joelho, estava um rosto que possuía tanto beleza quanto dignidade.
No centro, um par de olhos emitiam
um brilho misterioso, quase como cristais que refletiam uma variedade de cores
de luz em todas as direções.
Sua roupa era bem estranha. Com a
forma de um vestido de princesa, era feito com uma matéria que não podia dizer
se era roupa ou metal. Além disso, suas costuras, peças internas, saia e tal,
eram compostas de um filme ou luz misteriosa que não parecia mesmo ser de um
material físico.
E nas mãos, estava segurando a
espada enorme que devia ter em torno do seu próprio peso.
A anormalidade da situação.
A estranheza da sua aparência.
A singularidade de sua existência.
Todos eles seriam muito mais do que
suficiente para capturar a atenção de Shidou.
Entretanto.
Sim, Entretanto.
O que roubou os olhos de Shidou não
continham impurezas.
"smdash, smdash"
Nesse momento.
O medo da morte, até mesmo a
necessidade de respirar, foram esquecidos, quando seus olhos foram pregados na
garota.
Aquilo era tudo isso.
A garota era tão intensamente...
linda.
"—Qual o..."
Atordoado, Shidou falou pela
primeira vez.
Mesmo que minha garganta e meus
olhos sejam destruídos por blasfêmia, pensou.
A garota lentamente moveu seu olhar
para baixo.
"...seu nome?"
Shidou:"—Qual
o..." "...seu nome?"
Garota Misteriosa:"—Eu não tenho tal coisa."
Sua voz, carregando a dúvida vinda
do fundo do seu coração, sacudiu o ar.
Entretanto.
"-Eu não tenho tal
coisa."
Com um olhar triste, a garota
respondeu.
"---"
Foi então que os olhos de Shidou e
da garota se encontraram pela primeira vez.
Ao mesmo tempo, a garota sem nome,
com uma melancolia extrema, fazendo uma expressão de que estava prestes á
chorar, chamou a espada novamente com um 'kachiri'.
"Espere, espere, espere!"
Com um pequeno som, seu tremor
retornou. Shidou gritou desesperado.
Mas a garota simplesmente lançou um
olhar confuso á Shidou.
"...O quê?"
"O-O que voce está planejando
fazer...!?"
"Claro— matar você
rapidamente."
Ouvindo a garota responder tão
naturalmente, seu rosto ficou azul.
"P-Por que...!?"
"Por que..? Não é óbvio?"
Com um rosto cansado, a garota
continuou.
"-Além do mais, você não veio
também para me matar?"
"Huh...?"
Diante de uma resposta inesperada,
a boca de Shidou caiu aberta.
"...Eu não faria isso."
A garota olhou para Shidou com uma
mistura de surpresa, suspeita e confusão.
Entretanto, a garota imediatamente
estreitou os olhos e desviou o olhar para longe de Shidou, virando o rosto para
o céu.
Como se tivesse sido levado junto,
Shidou também olhou para cima-
"O quu...!?"
Seus olhos abriram ainda mais que
antes e a respiração ficou presa na garganta.
Afinal, haviam alguns humanos
usando roupas estranhas voando no céu- e pra piorar, das armas nas mãos
milhares de coisas parecidas com mísseis foram atiradas em direção á garota e
Shidou.
"O-O Queeeeeeeeeee!?"
Instintivamente, ele soltou um
grito.
Entretanto— mesmo depois de alguns
segundos, Shidou permaneceu consciente.
"Eh...?"
Atônito, sua voz saiu.
Os mísseis que foram lançados do
céu flutuavam imóveis no ar metros acima da garota, como se tivessem sido
segurados por mãos invisíveis.
A garota deu um suspiro exasperado.
"...Esse tipo de coisa é
inútil, por que eles nunca aprendem?"
Dizendo isso, a garota levantou a
mão que não estava segurando a espada e a fechou.
Ao fazer isso, os incontáveis
mísseis amassaram como se tivessem sido comprimidos e explodiram onde estavam.
Até mesmo a magnitude das explosões
foi assustadoramente pequena. Era como se toda a energia tivesse sido sugada
para dentro. Ele podia entender mais ou menos a confusão das pessoas flutuando
no céu.
Entretanto, eles não pararam os
ataques. Um após o outro, os mísseis eram atirados.
"-Hmpf"
A garota deu outro breve suspiro,
fazendo uma cara de que parecia que as lágrimas iriam cair a qualquer momento.
Era o mesmo rosto de quando ela
estava apontando a espada para Shidou antes.
"---"
Vendo essa expressão, Shidou sentiu
o coração bater ainda mais forte do que quando estava prestes a perder a vida.
Que cena estranha aquela.
Quem a garota era, ele não tinha a
menor ideia. Quem as pessoas voando eram, ele também não tinha a menor ideia.
Entretanto, o fato de que a garota
era mais forte do que aquelas pessoas voando, ele entendeu muito bem.
E é por isso que ele pensou
vagamente na pergunta:
Ela era a mais forte.
—Então porque estava fazendo aquela
expressão?
"...Desapareçam, desapareçam.
Tudo e todos... Simplesmente desapareçam...!"
Enquanto dizia isso, ela apontou a
espada, que liberou um brilho tão misterioso quanto dos seus olhos, em direção
ao céu.
Cansada, tristemente, ela
ingenuamente balançou a espada.
Em um instante— o vento uivou.
"...W-Wah...!"
Uma onda de choque atingiu a área e
o golpe voou em direção ao céu, ao longo do caminho da lâmina.
As pessoas voando no ar correram
para evitá-lo e saíram da posição.
Mas no outro momento, de uma
direção diferente, um feixe de luz com uma potência tremenda foi disparado em
direção á garota.
"...!"
Ele involuntariamente cobriu os
olhos.
Como o esperado, o feixe de luz
parecia ter batido em uma parede invisível no ar acima da garota e parou.
Como fogos de artifício explodindo
no céu da noite, espalhou-se em todas as direções, brilhando lindamente.
Entretanto, como se o feixe de luz
houvesse continuado, alguma coisa pousou atrás de Shidou.
"O-O que diabos está
acontecendo..."
Desde um momento atrás, Shidou não
tinha sido capaz de entender nada do que estava acontecendo.
Ele sentia como se estivesse
assistindo á um pesadelo.
No entanto— ao ver a figura que
tinha acabado de pousar, o corpo de Shidou enrijeceu.
Estava vestindo uma máquina, ou
alguma coisa assim.
Coberta de cima a baixo com uma
roupa estranha, estava uma garota.
Ela carregava propulsores gigantes
nas costas, e uma arma em forma de um saco de golfe nas mãos.
A razão para o corpo de Shidou ter
congelado era simples. Ele reconheceu a garota.
"Tobiichi...Origami...?"
Murmurou o nome que Tonomachi falou
para ele naquela manhã.
A garota com aparência
excessivamente mecânica era sua colega Tobiichi Origami.
Origami lançou um olhar para
Shidou.
"Itsuka Shidou...?"
Como resposta, ela chamou o nome de
Shidou.
Mesmo que estivesse surpresa, sua
expressão não mudou. Entretanto, era apenas um pouco, mas sua voz carregava um
tom perplexo.
"...Huh? O-O que há com essa
roupa—?"
Ele nem percebeu que era uma
pergunta estúpida, mas naquela hora já havia dito.
Oprimido por tudo que havia
acontecido, ele não sabia nem com o que deveria se preocupar mais.
Entretanto, Tobiichi rapidamente
desviou o olhar de Shidou, encarando a garota de vestido.
Depois de tudo,
"-Fmph"
A garota balançou a espada do mesmo
jeito de antes em direção á Origami.
Origami imediatamente pulou,
esquivando da direção em que a espada foi balançada, e se aproximou da garota
em uma velocidade incrível.
Da frente da arma na mão de
Origami, uma lâmina feita de luz apareceu.
Focando na garota, Origami balançou
a arma para baixo com toda a força.
"-ugh"
A garota uniu as sobrancelhas
ligeiramente, interrompendo o golpe com a espada na mão.
—Nesse momento. Do ponto que a
garota e Tobiichi cruzaram as espadas, um choque violento se formou.
Do ponto
que a garota e Tobiichi cruzaram as espadas, um choque violento se formou.
"Wa-W-Waaaahhhhhhhh!?"
Com um grito lamentável, ele
enrolou o corpo e de alguma forma, conseguiu resistir.
Origami foi repelida, e
momentaneamente as duas foram separadas, encarando uma a outra com as armas
equilibradas.
"..."
"..."
Imprensando Shidou, os olhares
cortantes da garota misteriosa e de Origami se misturaram.
Aquela realmente podia ser chamada
de uma situação crítica. Elas estavam num estado em que parecia que qualquer
gatilho faria a luta retomar imediatamente.
"..."
Shidou, por outro lado, estava se
sentindo desconfortável.
Com o suor se formando na sua testa
e com o pensamento de que precisava sair daquele lugar, ele lentamente arrastou
o corpo horizontalmente pelo chão.
Contudo, nesse momento, o celular
dentro do seu bolso subitamente começou a tocar com uma melodia brilhante.
"——!"
"——!"
Isso se tornou um sinal.
A garota e Origami pularam do chão
exatamente ao mesmo tempo, colidindo na frente de Shidou.
"Gyaaaaah!"
Diante da pressão do vento
esmagadora, Shidou foi impiedosamente jogado e desmaiou após bater na parede.
Parte 3
“—Qual a situação?"
Usando uma blusa e um uniforme
militar vermelho pendurado nos ombros como um manto, uma jovem entrou na ponte
e fez a pergunta.
"Comandante."
O sujeito esperando ao lado do
assento do capitão deu uma saudação tão perfeita quanto se aquilo fosse um
livro militar.
A garota que havia sido chamada de
comandante apenas deu um aceno, e então chutou os pés do cara.
"Oww"
"Pule as saudações e explique
a situação."
Enquanto dizia para o sujeito que
estava angustiado, ou melhor, com uma expressão extasiada, ela sentou no
assento do capitão.
O sujeito se endireitou
imediatamente.
"Sim. O ataque começou assim
que o 'espírito' apareceu."
"AST?"
"Parece que sim.”
AST, Anti Spirit Team.
Usando armaduras mecânicas para
caçar espíritos, capturar espíritos, matar espíritos; acima dos humanos, mas
não exatamente ao nível de monstros; são tipo magos modernos.
Em outras palavras— a realidade é
que mesmo estando em um nível sobre-humano, não era o suficiente para competir
seriamente com os espíritos.
O poder dos espíritos era de uma
magnitude diferente.
"—Nós confirmamos dez pessoas.
Nesse momento eles estão seguindo um, que está envolvido numa batalha."
"Mostre-me as imagens."
Com a ordem do comandante, imagens
em tempo real apareceram no grande monitor da ponte.
Em uma estrada larga em torno de
duas quadras do centro, duas garotas lutando enquanto moviam armas enormes ao
redor, apareceram.
Com o choque das armas, explosões
de luz escaparam, o chão rachou, e prédios desabaram. Era difícil imaginar que
aquela cena era parte da realidade.
"Ela é realmente boa. Mas,
bem, com um espírito como oponente provavelmente não poderá fazer nada."
"É o que você diz, mas também
é verdade que nós também não podemos fazer nada."
"..."
A comandante levantou o pé e com a
ponta da bota, pisou no pé do sujeito.
"Guhgii!"
Ignorando o sujeito que estava
fazendo uma cara extremamente feliz, a comandante suspirou silenciosamente.
"Eu entendo isso mesmo sem
você precisar me dizer. Eu também estou cansada de só poder assistir."
"Então, o que você está
tentando dizer é..."
"Sim. Finalmente a Mesa
Redonda deu seu consentimento. O plano está começando agora."
Com essas palavras, o som dos
membros da tripulação na ponte engolindo a respiração pôde ser ouvido.
"Kannazuki."
A comandante inclinou-se levemente
para trás no assento, e levantou a mão direita com o segundo e o terceiro dedo
mantidos em linha reta. Era como se ela estivesse pedindo por um cigarro.
"Sim, senhor."
O rapaz ligeiramente alcançou o
bolso e pegou um pirulito. E rapidamente, mas cuidadosamente, removeu a
embalagem.
Então, ajoelhou-se ao lado da
comandante e disse "por favor, aproveite" enquanto colocava o
pirulito entre os dedos da comandante.
A comandante pôs o pirulito na
boca, que começou a mover-se para cima e para baixo.
"...Ahh, agora que eu lembrei,
cadê a nossa importante 'arma secreta'? Ele não atende o telefone. Imagino se
foi adequadamente para um abrigo?"
"Deixe-me investigar— e,
huh?"
O rapaz virou a cabeça, perplexo.
"O que foi?"
"Bem, isso."
O rapaz apontou para a foto. A
comandante moveu seu olhar para lá— "ah", fez um breve som.
Do outro lado da batalha entre o
espírito e o membro da AST, um garoto vestindo um uniforme escolar estava
espalhado.
"... Na hora certa. Vá
verificar isso."
"Entendido."
O sujeito deu outra reverência de
cortesia.