Parte 1
Eram seis da tarde.
Os raios de sol da noite se
espalhavam pelo grupo de prédios em frente à Estação Tenguu, pintando-os de
laranja.
Em um pequeno parque que tinha uma
ótima visão daquele brilhante cenário, duas pessoas, um garoto e uma garota, estavam
andando.
Não havia nada de mais no garoto.
Ele era apenas um aluno normal do ensino médio.
Porém, a garota—
"...Fuuu"
Kusakabe Ryouko lambeu os lábios
enquanto apertava os olhos.
"Tem uma correspondência de
98,5%. É realmente alto demais para ser uma coincidência."
Espíritos.
Desastres que destruiriam o mundo.
Garotas que transformaram ilhas em
terras desoladas há 30 anos e causaram um incêndio enorme há 5 anos, e estavam
na mesma categoria das piores calamidades.
Entretanto, a figura que estava
refletida na retina de Ryouka naquele momento era simplesmente aquela garota
fofa.
"Permissão para atirar?"
Silencisamente— por outro lado, uma
voz extremamente fria foi lançada na direção das costas de Ryouko.
Ela não virou. Era Origami.
Equipada com o mesmo uniforme de
fiação e unidades de propulsores que Ryouko, sua mão direita segurava o rifle
Anti-Espírito que era da mesma altura que ela. <Cry•Cry•Cry>.
"...Ainda não. Continue em
modo de espera. Os superiores ainda devem estar discutindo."
"Entendido."
Não parecendo aliviada nem
desapontada, Origami acenou.
Agora parados a um quilômetro do
perímetro do parque, Ryouko e os outros membros da AST, dez no total, se
dividiram em cinco pares.
O fato de que havia duas pessoas
era um dos motivos para se moverem em pares.
Cada vez mais longe das áreas
urbanas do que do parque, estavam em uma área plana em desenvolvimento. Durante
o dia havia fileiras de caminhões e guindastes e tal, mas à essa hora já havia
se aquietado.
Algumas horas atrás, quando foi
decidido que a garota que Origami havia descoberto era um Espírito, a permissão
para operar as CR-Units foi dada imediatamente.
Entretanto, pessoas como o Ministro
de Defesa e o Chefe da Equipe ainda estavam em uma reunião sobre o plano de
ação.
A questão principal era se iriam
atacar ou não.
Por ser uma aparição sem que o
spacequake fosse detectado, o alarme de spacequake não soou.
Aquilo significava que nenhum
morador evacuou, então se o espírito ficasse furioso agora, haveria sérios
danos.
Por outro lado, seria ruim provocar
o Espírito soando o alarme agora. Era uma situação séria.
Porém—
"Essa é uma boa
oportunidade."
Origami, com sua voz monótona de
sempre, disse.
Era como Origami havia dito, havia
uma chance.
Porque naquela hora, o Espírito não
tinha o traje[1] manifestado
no corpo.
O escudo exterior que, como
território de Ryouko, fechava e tornava o Espírito a forma de vida mais
poderosa e irrevogavelmente invencível, não estava atualmente envolvido ao
redor do seu corpo.
Se fosse naquela hora, teria uma
chance que o ataque deles alcançasse-a.
Mas aquela era mais do que uma
possibilidade e naquela hora o necessário era um jeito certo de desferir um
golpe fatal com apenas um tiro.
Aquele era o motivo do porque
Origami estava segurando o rifle especial Anti-Espírito.
O usuário soltava um grito, a
trajetória soltava um chiado e o alvo soltava os espasmos da sua morte.
Esse, era o <Cry Cry CryC C
C>.
Sem o território expandido, o recuo
quebraria o pulso do atirador, aquela era uma arma alucinante.
Entretanto, Ryouko não imaginava
que haveria um incidente que seria necessário aquela arma.
"...Os superiores evasivos já
deviam ter dado permissão para atacar nessa situação."
"Seria problemático se não
dessem."
Ryouko disse e Origami respondeu
imediatamente.
"...Bem, esse é o caso se
estiver em questão. Mas, a importância de 'O Espírito fez um tumulto depois da
permissão de atacar ser dada, porque não pôde ser lidada com um tiro' contra 'O
Espírito fez um tumulto aleatoriamente mas nós não tínhamos ideia que havia
aparecido~' é bem diferente quando o problema traz responsabilidades."
"Isso é irritante, mas é assim
que eles tomam as decisões."
"Bem, existem várias pessoas
que se importam mais com suas posições do que com a vida de um monte de outras
pessoas."
Dizendo isso, ela encolheu os
ombros.
A expressão de Origami não mudou
nem um pouco, mas por algum motivo parecia que estava desapontada.
Então— nessa hora, uma voz
misturada com outros barulhos alcançou o ouvido de Ryouko.
"Sim, sim, esse é o ponto
alfa, qual a decisão fin— eh?"
Ryouko esbugalhou os olhos com a
informação que foi passada pelo seu receptor.
"—Entendido."
Dizendo apenas isso, terminou a
conexão.
"...Estou surpresa. Eles deram
permissão para atirar."
Honestamente, aquilo era meio
inesperado. Ela esperava completamente que fosse outro comando, o de ficar em
modo de espera.
Espere—ontem, o comando de atacar a
escola também foi um movimento agressivo que não seria dado normalmente. Havia
provavelmente algum remanejamento nas pessoas superiores.
Oh, bem, Ryouko só tinha que fazer
o seu próprio trabalho. Especificadamente, logo agora era— dizer ao membro com
a maior chance de sucesso para apertar o gatilho.
"—Origami, você atira. Dentre
o pessoal de agora, você é a mais adequada. Fracasso não vai ser tolerado.
Termine isso definitivamente com um tiro."
Em direção à essas palavras.
"Entendido."
Como esperado, Origami respondeu
sem nenhuma emoção.
Parte 2
No parque tingido pelo pôr do sol,
Shidou e Tohka eram os únicos que podiam ser vistos.
De hora em hora, o som dos carros e os
gritos dos corvos podiam ser ouvidos à distância, mas era um lugar pacífico.
“Ohh, essa vista é incrível!”
Desde algum tempo atrás, Tohka estava
inclinando-se na grade e apreciando as ruas coloridas pelo anoitecer da cidade
de Tenguu.
Seguindo a rota que a tripulação do
<Fraxinus> os guiou habilmente (?), eles chegaram naquele parque com uma
ótima vista da cidade, assim que o sol começou a se por.
Não era a primeira vez que Shidou ia
ali. Era mais um tipo de lugar secreto que ele gostava.
A pessoa que escolheu esse lugar como
destino foi, bem... Provavelmente Kotori.
“Shidou! Como isso se transforma!?”
Tohka apontou para o trem distante e
perguntou com os olhos brilhando.
“Infelizmente um trem não se
transforma.”
“Ah, então é do tipo de combinação?”
“Bem, ele realmente se junta com
outros.”
“Ohhhh”
Tohka deu um aceno estranhamente
satisfeito e então virou para encarar Shidou, colocando o peso na grade.
Tohka, com o pôr do sol se prolongando
no fundo, era indescritivelmente linda, como se fosse um quadro.
“—Sério.”
Como se mudando o assunto, Tohka
estendeu um “Nnnnn”.
Então, subitamente, seu rosto se
esticou em um sorriso despreocupado.
“É bem legal, essa coisa de encontro.
Eu realmente, uhm, me diverti muito.”
“......”
Aquele era um ataque inesperado. Mesmo
não podendo ver, suas bochechas estavam provavelmente vermelhas.
“O que há de errado? Seu rosto está
vermelho, Shidou.”
“...É o pôr do sol.”
Dizendo isso, olhou para baixo.
“Sério?”
Tohka inclinou-se na direção de Shidou
e como se olhando para cima, olhou para ele.
“——“
“Como eu pensei, está vermelha. É algum
tipo de doença?”
À uma distância em que ele podia sentir
sua respiração, Tohka disse.
“N... n-não é isso...”
Desviando os olhos— dentro da cabeça de
Shidou, a palavra, encontro, ficou girando.
Por causa dos mangás e filmes ele tinha
o conhecimento.
Se um casal visita um lugar incrível
como aquele no final do encontro, então provavelmente—
Naturalmente, os olhos de Shidou
moveram-se na direção dos lábios macios de Tohka.
“Nu?”
“—!“
Tohka não havia dito nada, mas ele
sentiu como se ela tivesse visto através dos seus pensamentos sórdidos e
novamente desviou os olhos andando para trás.
Secando o suor da testa com a manga,
Shidou rapidamente olhou para o rosto de Tohka.
Dez dias atrás e de novo ontem, a
expressão melancólica no seu rosto havia desvanecido um pouco. Exalando um
breve suspiro pelo nariz, deu um passo para encarar Tohka novamente.
“—Viu? Teve alguém que tentou te
matar?”
“...Nn, todos foram gentis.
Honestamente, até agora eu não posso acreditar direito.”
“Ah...?
Shidou torceu o pescoço e Tohka deu um
sorriso seco com um ar de auto desprezo.
“Que existem vários humanos que não me
rejeitam. Que não negam minha existência. —Aquele grupo mecha-mecha... uhh,
como eles se chamavam. A...?”
“Você quer dizer AST?”
“Sim, eles. Parecem mais realista para
mim se todos na rua fossem seus subordinados e estivessem trabalhando juntos para
me enganar.”
“Ei ei...”
Aquilo era sem dúvidas uma resposta
absurda, mas... Shidou não podia rir daquilo.
Porque para Tohka, era normal.
Continuar sendo rejeitada era normal.
Aquilo era tão— triste.
“...Então eu também seria um peão da
AST?”
Shidou perguntou e Tohka balançou a
cabeça vigorosamente.
“Não, Shidou é, uhm... definitivamente
alguém que os familiares foram ameaçados e sequestrados.”
“O-O que há com esse papel...”
“... Por favor, não me deixe pensar que
você é um inimigo.”
“Eh?”
“Nada.”
Perguntando, dessa vez foi Tohka quem
virou para longe.
Como se mudando a expressão à força,
ela esfregou o rosto com as mãos e então virou de volta.
“—Mas sério, hoje é um dia
extremamente, extremamente significativo. Que o mundo é tão gentil, tão
divertido, tão lindo... eu não podia nem imaginar antes.”
“Entendo—“
Os lábios de Shidou racharam em um
sorriso.
Entretanto, como se respondendo à
expressão de Shidou, Tohka enrugou as sobrancelhas enquanto um sorriso seco
surgia.
“Os pensamentos daquele pessoal— da AST,
eu meio que entendo agora.”
“Eh...?”
Shidou estreitou as sobrancelhas de uma
maneira questionadora enquanto Tohka fazia uma expressão levemente triste.
Era apenas um pouco diferente da
expressão melancólica que Shidou odiava— mas era uma expressão tingida com um
sentimento levemente triste, que só de olhar parecia que torceria o coração de
qualquer um.
“Todas as vezes... que venho para esse
mundo, destruo parte de alguma coisa tão incrível assim.”
“———“
A respiração de Shidou travou.
“M-Mas isso não tem nada a ver com sua
própria vontade, certo...!?”
“...Nn. Ao aparecer, os efeitos disso,
eu não consigo controlar.”
“Então-“
“Mas para os moradores desse mundo, a
destruição resultada não muda. Os motivos para a AST tentar me matar, eu
finalmente... entendi.”
Shidou não pôde responder
imediatamente.
O olhar triste e Tohka fez com que seu
peito apertasse tanto que não conseguia respirar direito.
“Shidou. É melhor se— eu não existisse,
afinal de contas.”
Dizendo isso— Tohka sorriu.
Não era um sorriso inocente que havia
visto de relance hoje ao meio-dia.
Era como um paciente doente percebendo
que o final estava próximo— um sorriso fraco e doloroso.
Com um gole, engoliu a saliva.
Inconscientemente sua garganta ficou
seca. Sentindo uma dor fraca como se a água permanecesse na sua garganta, de
alguma maneira conseguiu abrir a boca.
“Não é... assim...”
Com o objetivo de botar mais força na
sua voz, cerrou os punhos levemente.
“Quer dizer... não teve nenhum
spacequake hoje, certo!? Deve ter alguma coisa diferente do comum...! Se
pudermos descobrir o que é...!”
Porém, Tohka balançou a cabeça
lentamente.
“Mesmo que agente estabeleça desse
jeito, isso não muda o fato de que a hora em que sou transportada aqui é
aleatória. O número de aparecimentos provavelmente não vai cair.”
“Então...! Daria tudo certo se você
simplesmente não voltasse para aquele lado de novo!”
Shidou gritou e Tohka levantou a
cabeça, esbugalhando os olhos.
“Alguma coisa assim— não é...”
“Você já tentou!? Pelo menos uma vez!?”
“...”
Tohka franziu os lábios e caiu em
silêncio.
Enquanto pressionava o peito, como se
tentando suprimir as palpitações irregulares, Shidou mais uma vez encharcou a
garganta com saliva.
Era algo que disse no calor do momento,
mas— se alguma coisa como aquilo era possível, então o spacequake não
aconteceria novamente.
De acordo com a explicação de Kotori,
as ondas de energia de quando o Espírito é transportado da outra dimensão para
esse mundo causava o spacequake.
Assim, se Tohka fosse puxada
aleatoriamente para esse mundo sem respeitar sua própria vontade, então ela
também podia ficar aqui desde o início.
“M-Mas, você sabe, tem várias coisas
que eu não sei.”
“Alguma coisa assim, eu vou ensinar a
você tudo isso!”
Às palavras de Tohka, uma resposta
imediata.
“Eu precisaria de uma cama e coisas
para comer.”
“Eu... vou fazer algo quanto a isso!”
“Coisas devem acontecer
inexplicavelmente.”
“Se isso acontecer então, vou pensar
nisso!”
Por um breve momento, Tohka afundou no
silêncio e então abriu a boca levemente.
“...Está mesmo tudo bem se eu viver?”
“Sim!”
“Está tudo bem se eu ficar nesse
mundo?”
“Sim!”
“... O único que diria isso é Shidou,
somente você. Não importa se é a AST ou até mesmo os humanos, eles
definitivamente não aceitariam um ser tão perigoso estar no ambiente de
convívio deles.”
“Como se eu fosse saber disso...!! O
quê que tem a AST!? O quê que tem as outras pessoas!? Tohka! Se eles te
rejeitarem, então mais importante do que todos eles juntos, eu vou
aceitar você!”
Ele gritou.
Encarando Tohka, Shidou estendeu sua
mão firmemente.
“Balance! Por ora— só isso está
bem...!”
Tohka olhou para baixo.Por alguns
instantes, afogou-se no silêncio como se estivesse pensando, e então lentamente
levantou o rosto e estendeu a mão.
“Shidou—“
Então.
O momento em que suas mãos se tocaram.
“---“
Os dedos de Shidou tremeram
subitamente.
Ele não sabia por que, mas— sentiu um
frio extraordinário.
Como se uma língua áspera estivesse
lambendo todo o seu corpo, um sentimento indesejável.
“Tohka!”
Involuntariamente, gritou aquele nome.
E antes que Tohka pudesse responder.
“...”
Com ambas as mãos, empurrou Tohka o
mais forte que podia.
A esbelta Tohka não conseguiu ficar de
pé com o ataque súbito, já que rolou para trás como em um mangá.
Nem mesmo um instante mais tarde.
"—————Ah”
Em algum lugar entre seu peito e
estômago, Shidou sentiu um impacto tremendo.
“O- O que você está fazendo!?”
Coberta de areia, Tohka reclamou, mas
era difícil responder aquilo.
Ele não conseguia responder.
Era difícil de manter até mesmo sua
consciência e postura.
De qualquer jeito, alguma coisa,
parecia errada.
“Shidou?”
Tohka disse aturdida.
Procurando pelo motivo, moveu a mão
direita, tremendo para o lado.
Alguma coisa estava estranha.
Afinal de contas, não havia nada,
al—————
“Ah—“
“Ah—“
Através da visão reforçada pelo
território, Origami ouviu esse som vazar da sua garganta enquanto assistia a
figura de Shidou desintegrando.
Por alguns instantes seu corpo
enrijeceu, enquanto ela jazia no chão liso que estava preparado para a
construção de novos prédios, segurando o rifle anti-Espírito <Cry Cry CryC C
C> preparado.
Alguns segundos mais cedo.
Origami ligou o realizer no <Cry Cry
CryC C C>, aplicou uma barreira ofensiva na bala especial que estava
carregada, travou perfeitamente e apertou o gatilho.
Não havia possibilidade de errar.
—Se Shidou não tivesse empurrado o
Espírito.
A bala que Origami havia atirado— no
lugar do Espírito, cortou através do corpo de Shidou.
“———“
Dessa vez, nenhum som saiu.
Ela podia dizer que seu dedo, o que
apertou o gatilho, estava tremendo minuciosamente.
Afinal de contas, agora mesmo, eu
simplesmente, Shidou—
“—Origami!”
“——“
A voz de Ryouko a trouxe de volta para
seus sentidos.
“Você pode se arrepender depois! Eu vou
repreendê-la até a morte mais tarde! Mas por ora—“
Falando apenas isso, Ryouko olhou de
relance para o parque com medo.
“Apenas pense em não morrer...!”
“Shidou...?”
Ela chamou o nome dele, mas não recebeu
resposta.
Era o esperado. No peito de Shidou,
havia um buraco gigante até maior que a mão estendida de Tohka.
Sua cabeça estava confusa, ela não
entendia.
“Shi—, dou”
Tohka se agachou ao lado da cabeça de
Shidou e cutucou sua bochecha.
Não houve resposta.
A mão que estendeu na direção de Tohka
momentos atrás estava completamente echarcada de sangue.
“U, wa, aaa, aaaa—“
Alguns segundos depois, seu cérebro
começou a entender a situação.
...Ela reconheceu o cheiro de queimado
que os envolvia.
Era o cheiro do grupo que sempre tentou
matar Tohka— a AST.
Era um tiro bem certeiro.
Provavelmente— aquela garota.
Se ela recebesse um tiro no seu estado
atual sem a armadura, até mesmo Tohka não sairia ilesa.
Muito menos se fosse o completamente
indefeso Shidou.
“———"
Tohka sentiu uma tontura terrível
enquanto colocava a mão sobre os olhos de Shidou, que ainda estavam encarando o
céu e lentamente fechou suas pálpebras.
Então, tirou a jaqueta do uniforme que
estava usando e gentilmente cobriu o cadáver de Shidou.
Instável, Tohka levantou e virou o
rosto na direção do céu.
—— Ahh, Ahhh.
Era impossível. Era impossível afinal
de contas.
Por um momento— Tohka havia pensado que
estaria tudo bem em morar naquele mundo.
Se Shidou estivesse lá, então talvez as
coisas tivessem funcionado, foi o que pensou.
Seria provavelmente complicado e
embaraçoso, mas eles conseguiriam fazer aquilo, pensou.
Porém.
Ahh, porém,
Era impossível afinal
de contas.
Esse mundo— foi escolhido para rejeitar
Tohka afinal de contas.
E isso era pelos mais baixos e piores
significados imagináveis—!
“— <Heavenly
Raiment•TenthAdonal Melech>...”
Do fundo da sua garganta, o nome saiu.
Raiment. O absolutamente mais forte, o território de Tohka.
Instantaneamente, o mundo, cantou.
O cenário ao seu redor achatou e
distorceu, enrolando-se ao redor do corpo de Tohka e gerou a forma de um traje
cerimonioso.
E então uma membrana brilhante
tornou-se e saia e a parte de dentro do traje— a calamidade havia descido.
·
Rangido, rangido*
O céu rachou.
Como se expressando o descontentamento
de Tohka, que subitamente fez seu traje se manifestar.
Tohka moveu o olhar levemente para
baixo.
Em um monte que era plano como o topo
de uma montanha que havia sido cortada, estava as pessoas que haviam acabado de
atacar Shidou.
As pessoas à qual não seria
suficiente simplesmente matá-las, estavam lá.
Tohka empurrou o calcanhar no chão.
Instantaneamente, o trono que
armazenava a espada gigante apareceu de lá.
Com um estrondo, Tohka pulou do chão,
parando no braço do trono e tirou a espada do fundo.
Então.
“Aaaaa”
Sua garganta tremeu.
“Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa"
Como se o céu estivesse tremendo.
"AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA———!!"
Como se o chão rugisse.
Parecia que ela estava entorpecendo o cérebro, como se tentando desgastar-se para baixo.
Sua garganta tremeu.
“Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa"
Como se o céu estivesse tremendo.
"AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA———!!"
Como se o chão rugisse.
Parecia que ela estava entorpecendo o cérebro, como se tentando desgastar-se para baixo.
“Como ousa.”
Seus olhos umedeceram.
“Como ousa como ousa como ousa como
ousa como ousa como ousa.”
Tohka botou força na mão que segurava a
espada e matou a distância na frente dos seus olhos.
“O q—!?”
“———“
Sem dar nem tempo para piscar, Tohka
moveu-se para o monte que estava vendo algum tempo atrás.
Na frente dela, havia uma mulher com os
olhos abertos em choque e uma garota com uma expressão inexpressiva.
Ao mesmo tempo em que via aquele rosto
desprezado e odiado, Tohka gritou.
“<Sandalphon> — [The Last
SwordHalvanhelev]!!”
Imediatamente, rachaduras correram do
trono que Tohka estava pisando, enquanto caía aos pedaços.
Então, as várias peças do trono
ligaram-se na espada que Tohka estava segurando, aumentando ainda mais o
tamanho da silhueta.
Com um comprimento superior à 10
metros, uma espada excessivamente acima do tamanho.
Entretanto, Tohka deu uma balançada
leve e então desceu na direção das duas mulheres.
A luz saindo da espada cresceu ainda
mais intensa e em um instante arrastou-se pelo chão, junto com a linha
estendendo-se da espada.
No momento seguinte, uma explosão
tremente invadiu a área ao redor.
“O q...!”
“—Gu”
Pulando para a esquerda e para a
direita na hora certa, as duas soltaram a voz cheia de medo.
Mas era de ser esperado. Afinal de
contas, com apenas um ataque, Tohka dividiu a superfície plana da área em duas
metades ao longo do seu comprimento.
“Seu..., monstro—!”
A garota alta gritou, balançando algo
como uma espada não refinada em direção à Tohka.
Mas não havia como aquela coisa
alcançasse Tohka, com seu traje equipado. Só por direcionar seu olhar naquela
direção, ela disparava o ataque.
“Impossível—“
O rosto da garota estava tingido de
desespero.
Mas sem mostrar nenhum interesse nela,
Tohka olhou na direção da outra garota.
“—Ah, ah. É você, é você.”
Silenciosamente, seus lábios abriram.
“O meu amigo, meu melhor amigo, Shidou,
quem o matou, foi você.”
Tohka disse isso e só levemente, mas
pela primeira vez, a expressão da garota distorceu.
Entretanto, algo assim não importava
nem um pouco.
Uma existência que podia parar Tohka
com [The Last SwordHalvanhelev] materializada não existia naquele
mundo.
Olhando para a garota com olhos
manchados de pura escuridão, ela calmamente enlouqueceu.
“—
Matar destruir matar apagar matar todos.
Morra acabemorra pereça morra .”
Parte 3
“Comandante...!”
“Eu sei. Pare de fazer barulho.
Você não é um macaco na época de acasalamento.”
Enquanto rodava o doce pela boca,
Kotori respondeu ao seu subordinado em pânico.
Ponte do <Fraxinus>. No
monitor central, o Shidou caído estava com o corpo completamente acabado, assim
como o Espírito, a batalha de Tohka, estava sendo mostrada.
Ela conseguia entender a agitação
na tripulação.
A situação era esmagadoramente,
absolutamente, devastadoramente sem esperança.
O alerta de spacequake havia
começado a soar finalmente, mas antes dos moradores evacuarem completamente, a
batalha ente Tohka e a AST havia começado.
O único ponto positivo daquilo era
que aquele era um lugar em construção não ocupado— mas um único ataque de Tohka
acabaria facilmente com aquele otimismo.
Um poder transcendente destrutivo
que tinha feito Tohka até agora parecer fofa em comparação.
Apenas um ataque dividiu a
construção expandida em dois, no meio de um abismo profundo.
Além disso— a morte súbita de
Shidou, que era suposto de ser a arma final do <Fraxinus> .
O grupo de Kotori foi colocado na
pior situação imaginável.
Ainda,
“Bem, faltou um pouco de elegância,
mas acho que nosso cavaleiro tem permissão para prosseguir. Eu não conseguiria
ficar para assistir se a princesa fosse atingida agora à pouco.”
Em um tom não muito sério, Kotori
disse e o palito do pirulito moveu.
Os membros da tripulação lançaram
um olhar temeroso na direção daquela Kotori.
Mas não tinha como culpá-la. Agora
mesmo ela havia perdido o irmão.
Entretanto dentre eles, apenas
Reine e Kannazuki demonstravam reações diferentes.
Reine estava monitorando a batalha
de Tohka, colhendo dados, como se tudo estivesse normal.
Porém, Kannazuki estava em um
estado diferente. Seu rosto estava tingido de vermelho e baba estava vazando da
sua boca.
Olhando para aquilo, ele tinha uma
cara como se estivesse pensando algo do tipo “Ahh... abrindo um buraco tão
grande no meu corpo... *contorce
contorce*. Não seria incrível? Tenho certeza, tenho certeza que seria
incrível. M-mas se eu morrer, então não tem propósito.”
“Francamente.”
“Hauu!?”
Kotori deu um pontapé na canela de
Kannazuki e levantou.
Então, ela fez um “hmpf” com o
nariz e com os olhos meio fechados anunciou.
“Parem de ficar vadiando por aí e
voltem ao trabalho. Não tem como esse ser o final de Shidou, certo?”
Aquilo era verdade.
A partir de agora, era o verdadeiro
trabalho de Shidou.
“C-Comandante! Isso é...!”
Um dos membros da parte mais baixa
da ponte estava olhando para o lado esquerdo da tela— para algo no parque que
estava sendo mostrado e soltou uma voz cheia de surpresa.
“—Está aqui.”
Mudando a posição do doce, sua boca
retorceu em um sorriso.
Na figura, deitado no parque,
coberto pelo uniforme escolar, Shidou estava sendo mostrado, mas— aquele
uniforme escolar, subitamente começou a queimar.
Não era porque estava desaparecendo
por ter sido criado por um Espírito e nem por causa de que os raios de sol
começaram um incêndio.
Isso é porque, o que estava
queimando não era o uniforme.
O uniforme queimou e caiu,
revelando o corpo lindamente santificado de Shidou.
E então, os membros da tripulação
do <Fraxinus> mais uma vez soltaram sons de surpresa.
“A-A ferida está—“
Isso mesmo, a ferida. A parte que
havia virado um enorme buraco estava queimando.
As cinzas irromperam até que o
machucado de Shidou não pudesse mais ser visto—então cessou gradualmente.
E então, depois das chamas
terminarem, ali existia o corpo de Shidou restaurado perfeitamente.
E então—
“Nn........queeeeeeeeeeeeeeeeeeeente!?”
Vendo que o fogo que ainda estava
fumegando no seu estômago, pulou.
Batendo no estômago com um olhar
afobado, extinguiu o fogo.
“-H-huh? Eu estou... por quê?”
A ponte eclodiu.
“O q...Comandante, isso é—“
“Eu não disse? Se Shidou morrer uma
ou duas vezes, ele pode imediatamente começar um novo jogo.”
Enquanto lambia os lábios, Kotori
respondeu à sua tripulação.
A tripulação simultaneamente lançou
um olhar questionador, mas ela ignorou.
“Recuperem-no imediatamente. – O
único que pode parar a garota é Shidou.”
Parte 4
—Ele não entendeu.
Enquanto batia no estômago
repetidamente, Shidou enrugou as sobrancelhas.
Havia um buraco enorme no blazer e
na blusa que estava usando e sua gravata havia sido arrancada pela metade.
Mas naquela hora Shidou não dava
nenhuma atenção à sua aparência vergonhosa.
Havia algo mais que ele tinha que
direcionar sua atenção.
“Por que— eu estou vivo...?”
Mais uma vez tocando o estômago,
murmurou.
Algum tempo atrás ele havia tido um
mau pressentimento e subitamente empurrou Tohka.
No momento seguinte, um buraco
abriu no seu estômago— e ele desmaiou.
Na verdade, havia um buraco em suas
roupas e as manchas de uma boa quantidade de sangue permaneceram. Não parecia
ser um sonho.
"Oh certo— Tohka...!"
Aquele ataque estava sem dúvidas
mirando em Tohka.
Como será que Tohka está...? Olhou
ao redor do lugar, procurando por ela.
Então, de um monte até mesmo mais
alto do que o parque em que Shidou estava, uma luz preta foi atirada—— seguindo
isso, o som de uma explosão tremenda e de uma onde de choque espalhou-se.
"Uwahh...!?"
Pego de surpresa tombou no chão,
empurrado pelo vento.
"O-O que...!"
Enquanto soltava um grito, olhou na
direção daquele lugar— o corpo de Shidou enrijeceu.
A cena que viu, comparada com a de
antes de perder a consciência, tornou-se algo completamente diferente.
Naquela direção havia a área de
construção, assim como montanhas e de modo que não haviam sido tocadas desde
que a paisagem mudou 30 anos atrás—
Aquelas coisas haviam sido
destruídas disparadamente como se tivessem sido atingidos por um ataque aéreo.
Não— era levemente diferente. Se
qualquer coisa, era como se uma espada gigante tivesse cortado-as incontáveis
vezes deixando para trás uma quantidade de arestas afiadas.
"O que..."
Enquanto murmurava estupefato,
"Nuahhh...!"
Shidou sentiu seu corpo ficar leve.
Não era a primeira vez que tinha
aquela sensação. Era o sistema de transferência do <Fraxinus>.
Na hora em que Shidou compreendeu
aquilo, sua visão já havia mudado do parque no monte para a parte de dentro do
<Fraxinus>.
"Por aqui!"
O membro da tripulação do
<Fraxinus> que estava esperando falou em voz alta.
"H-Haa..."
Ainda levemente confuso, Shidou foi
conduzido até a ponte.
E quando chegou à ponte,
"—Como foi a sensação de
acordar, Shidou?"
No assento do capitão na parte mais
alta da ponte, com o palito de um Chupa-Chups se movendo, Kotori falou.
"...Kotori."
Shidou bateu levemente na orelha
que estava zumbindo e franziu as sobrancelhas.
"... Eu não consigo entender
direito a situação. O que aconteceu exatamente?"
"Nn, Shidou foi atacado pela
AST, então a princesa explodiu e foi matar a AST."
Dizendo isso, gesticulou para que
ele olhasse para cima diagonalmente— para a tela gigante na ponte.
"O qu..."
Lá havia Tohka, balançando a espada
gigante e cortando as montanhas, assim como a imagem da AST atacando de volta.
Não— aquilo não era algo que podia
ser chamado de atacar de volta.
Nem um dos ataques que a AST soltou
com o espírito intenso atingiu Tohka.
Por outra mão, as balançadas de
Tohka, sejam ataques diretos ou até mesmo apenas uma onda de choque, jogavam
facilmente os assistentes para longe quebrando sua formação, como se o
território deles não existisse.
Era esmagadoramente unilateral— a
marcha de um rei.
"Ela está completamente
desesperada. Parece que ela não conseguiu tolerar Shidou ser morto."
Dizendo isso, Kotori encolheu os
ombros.
"..., O que isso quer dizer...!
Oh, certo! Antes de tudo, por que eu estou vivo!?"
Shidou gritou e Kotori sorriu como
se obviamente soubesse de algo.
"Bem, vamos falar disso mais
tarde. Agora tem outra coisa que você precisa fazer."
Olhando para a imagem de Tohka,
Kotori disse.
"Outra coisa— para
fazer?"
"Sim. Não queremos que
acidentes aconteçam por causa do Espírito."
"..., Isso é obvio, não
é!?"
Shidou gritou e Kotori estreitou os
olhos como se estivesse se divertindo.
"Sim, esplêndido, Sr.
Cavaleiro. —Agora vamos. Temos que parar a princesa."
Kotori olhou para longe de Shidou
ao dizer isso e aumentou a voz.
"Vire o <Fraxinus> ao
contrário! Mova para a frente de batalha! Traga a suspensão para dentro de um
metro!"
"Entendido!"
Vários membros da tripulação que
pareciam com timoneiros responderam em unissonância.
Então, junto com um som de tensão,
o <Fraxinus> balançou levemente.
"Ko-Kotori!"
"Nn, o que foi Shidou?"
"Você disse para parar Tohka—
alguma coisa assim é possível!?"
"O que está dizendo? Não é se
isso é possível, é se você vai fazê-lo, Shidou."
Kotori levantou as sobrancelhas,
com um olhar estupefato.
"E...Eu!?"
"Claro. Quando você vai se
convencer. —É impossível para qualquer um além de Shidou."
"C-Como exatamente
eu...!"
Enquanto uma gota de suor descia
pelo rosto, Shidou perguntou, e Kotori tirou o Chupa-Chups da boca.
E então, com um sorriso travesso
flutuando no rosto,
"Você não sabe? Só há um jeito
de salvar a princesa que foi amaldiçoada."
Dizendo isso, franziu os lábios e
beijou o doce.
Parte 5
A situação era a pior possível.
Os dez membros da AST em espera já
estavam todos na batalha, mas sem se importar em atingir o Espírito, não podiam
nem ter esperança de se aproximar.
Não— até antes disso, ninguém além
de Origami nem entrou no canto da percepção do Espírito.
Afinal de contas— não existem leões
que andam se preocupando com formigas.
"Uwaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhh—!!"
Soltando um rugido com uma voz
chorosa molhada em lágrimas, o Espírito balançou a espada gigante para baixo.
"..."
Origami engatou os propulsores,
torcendo o corpo e escapando no céu, evitando o ataque.
Mas— a onda de choque provocada
pela pressão da espada invadiu seu território e agrediu o corpo de Origami.
"Guh—"
Por um segundo, ela se descuidou.
"—AAAAAAAAHHH!"
O Espírito rugiu.
Então, com todo o seu poder, ela
girou os ombros e a espada cortou pelo ar, mais uma vez balançando na direção
de Origami.
"—Origami!!"
Ryouko gritou. Mas—era tarde
demais.
A espada do Espírito tocou o
território de Origami.
—Em um instante.
"———"
Origami percebeu que seu julgamento
havia sido ingênuo.
Ela havia tentado adivinhar a
potência aproximada pela onda de choque mas— ela estava errada. O poder era
claramente de outro mundo.
Deixa pra lá, comparando aquilo
consigo mesma, mesmo considerando apenas uma estratégia, seria blasfêmia; o
martelo de ferro do rei tirano.
Em termos de tempo, era meramente
1.5 segundos.
Seu território.
Ostentando supostamente um poder
absoluto, a fortaleza de Origami.
"————"
Sem nenhum som, sem nenhuma voz,
ela foi esmagada.
O corpo de Origami foi arremessado
do céu para o chão.
"Aa"
"Origami!"
A voz de Ryouko parecia estar
longe.
Provavelmente desde que o
território havia sido liberado, a sobrecarga em seu cérebro parecia ter
atenuado ligeiramente, mas no lugar disso todo o seu corpo doía intensivamente.
Não havia apenas um ou dois ossos quebrados. Sangue encharcava o uniforme de
fiação das feridas que ela nem sabia onde estavam, criando uma sensação
desagradável. Sua cabeça subitamente ficou pesada como se lembrasse da
gravidade, movendo-se um pouco.
Na sua visão nebulosa, a figura do
Espírito parada no céu era a única coisa que podia ver claramente. Segurando a
espada com uma expressão extremamente triste, a figura de uma garota
tremendamente pequena.
"———É o fim."
O Espírito levantou a espada e
parou.
Cercando o espírito, incontáveis
pontos de luz apareceram, cada um soltando um brilho preto e convergiram na
lâmina da espada, como se fossem sugados.
Sem mesmo nenhuma explicação, ela
entendeu.
Aquele era o ataque com toda a
força por detrás do Espírito.
Se ela recebesse aquilo no seu
estado atual, sem seu território, então morreria sem dúvidas. Ela tinha que
escapar de algum jeito.
Porém, seu corpo estava pesado e
doía, como se ela nem pudesse tentar se mover.
Ryouko e os outros membros da AST
já estavam incapacitados de lutar. Não havia nada existente que pudesse parar o
Espírito.
O Espírito colocou o poder na mão
segurando a espada.
Então— naquele momento.
"TooohkaaaaaaaaaaaaaaAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaa—!!"
Do céu.
Até mesmo mais alto que o Espírito.
Aquele grito foi ouvido.
"Eh—"
Mesmo que a ameaça à sua vida fosse
iminente, Origami ainda assim soltou aquela voz atônita.
Afinal de contas, o grito era do
garoto que Origami havia atirado algum tempo atrás.
"A princesa está voando, huh...
então, Shidou, vamos descer aqui. Paraquedas? Você não precisa de alguma coisa
assim. Não estamos tão alto e de qualquer modo, quando se aproximar dela, nós
vamos suspendê-lo no ar. —Ahh, uun, não se preocupe, não se preocupe. É
limitado apenas para diretamente abaixo do <Fraxinus>. ...Eh? Se você
sair do curso? Mmm... bem, haverá uma linda flor florescendo no chão, embora
seja uma vermelha e brilhante."
Depois de contar à Shidou sobre 'o
jeito de parar Tohka', Kotori olhou para o monitor enquanto dizia aquilo. E
depois riu.
"E-espere! Já vai ser difícil
o bastante, por que ...!"
"Bem, você sabe, se o índice
de sucesso vai ser em torno do mesmo, então não é óbvio que a maneira mais
aproveitável seja melhor?"
"Você vai ser a única
aproveitando isso!!!!!"
"Tão irritante. Segurem
ele."
"Sim!"
Kotori disse, e de algum lugar dois
homens musculosos apareceram e seguraram as duas mãos de Shidou.
Desse jeito, Shidou foi puxado.
"Ahh, maldita, é melhor
lembrar-se disso, Kotoriii!"
"Tanto faz. Eu vou lembrar
então tenha uma boa viagem."
Ouvindo aquela voz, Shidou foi
carregado para uma escotilha posicionada na parte mais baixa do invólucro,
"Boa sorte."
Nem mesmo tendo tempo para
protestar, foi jogado no céu.
"Gyahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh—!?"
Um vento feroz assaltou o uniforme
escolar envolvido ao redor do seu corpo assim como a carne do seu rosto.
Uma sensação inacabável de
gravidade zero. Agora ele não tinha mais medo de coisas como montanha-russas.
Então— tão assustado que parecia
que sua consciência voaria para longe, Shidou viu uma única sombra.
"—!"
Estendendo suas pernas para
estabilizar, capturou a garota na sua visão turva.
E então.
"TooohkaaaaaaaaaaaaaaAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaa—!!"
Com toda a força que conseguia
juntar, gritou aquele nome.
Nem mesmo uma batida depois, a
gravidade que puxou seu corpo dissipou a sensação de ausência de peso.
Era provavelmente o suporte da
<Ratatoskr>. Não mudava o fato de que ainda estava caindo, mas se fosse
daquele jeito—
"———"
Tohka parecia ter notado a voz de
Shidou; sem balançar a espada gigante, olhou para cima.
Suas bochechas e o topo do seu
nariz estavam vermelhos e seus olhos estavam encharcados. Era uma aparência
extremamente inconveniente.
Seus olhos encontraram os de Tohka.
"Shi-dou...?"
Como se ainda não compreendesse a
situação, Tohka murmurou.
Com a velocidade da descida
diminuindo gradualmente, Shidou colocou as mãos nos dois ombros de Tohka. Com a
ajuda de Tohka parada no meio do ar, ele finalmente parou.
"E-ei... Tohka."
"Shidou... é, v-você,
mesmo...?"
"Ahh... Sim, eu acho."
Shidou disse e os lábios de Tohka
estremeceram.
"Shidou, Shidou,
Shidou...!"
"Mhm, o q—"
Quando começou a responder, o canto
da visão de Shidou se encheu com uma luz intensa.
A espada que Tohka havia parado na
metade do golpe soltava um brilho puramente preto que transformou o ambiente ao
seu redor em escuridão.
"O- O que é isso..."
"...! Oh não...! O poder
está—"
Ao mesmo tempo em que Tohka
estreitava as sobrancelhas, uma luz saiu da espada como um raio, perfurando a
terra.
"To-Tohka, o que é—"
"Eu não consigo mais controlar
a [The Last SwordHalvanhelev]...!
Temos que liberar isso em algum lugar...!"
"Onde é algum lugar!?"
"———"
Sem dizer nada, Tohka olhou para o
chão.
Seguindo o olhar, notou Origami
deitada lá, parecendo que podia morrer à qualquer momento.
"...! Tohka, você...! N-Não
atire lá!"
"E-Então o que você quer que
eu faça? Ela já alcançou seu estado crítico!"
Mesmo enquanto dizia aquilo, a
espada que Tohka segurava estava atirando correntes de luz preta ao seu redor.
Como uma metralhadora, o bombardeio contínuo furava a terra.
Então, nessa hora, Shidou
lembrou-se das palavras de Kotori.
"...Tohka. U-Uhm, acalme-se e
me escute."
"O que foi!? Essa não é
hora—"
"É sobre isso! A possibilidade
de fazer alguma coisa sobre isso... provavelmete... está aqui!"
"O que quer dizer!? O que devo
fazer!?"
"A-Aahh. Uhm—"
Porém Shidou não conseguiu deixar
aquilo sair da boca imediatamente.
Afinal de contas, o método que
Kotori havia dito à ele era tão incompreensível e ilógico e fora do contexto—
"Rápido!"
"...!"
Shidou se convenceu e abriu a boca.
"É-É, uhm...! Tohka! Me
b-beije...!"
"—O quê!?"
Tohka estreitou as sobrancelhas.
Mas era de se esperar. Naquela hora
urgente ele disse uma coisa daquelas. Era inevitável que ela tomasse aquilo
como uma piada de mau gosto.
"D-Desculpe, simplesmente
esqueça. Vamos pensar em alguma outra—"
"O que é um beijo!?"
"Huh...?"
"Diga rápido!"
"...Um b-beijo é, uhm, você
junta dois lábios—"
No meio das palavras de Shidou.
—Sem nenhuma hesitação, Tohka
pressionou seus lábios rosados nos de Shidou.
"—————!?"
Seus olhos esbugalharam o máximo
que puderam enquanto ele soltava um som abafado.
Os lábios de Tohka eram tão macios
e tão úmidos e tinham até um cheiro doce que ao sentir e tocar fizeram seu
cérebro gritar inferno e paraíso.[2] Que
beijos tem gosto de limão é uma mentira. O beijo de Tohka tinha gosto do
parfait que tinha comido no almoço.
Uma batida depois.
—Rachaduras formaram na espada de
Tohka que se elevou em direção ao céu, e então desintegrou-se, dissolvendo no
ar.
Seguindo isso, a película de luz
que formava a parte de dentro do vestido que envolvia o corpo de Shidou assim
como sua saia desapareceram, como se tivesse rebentado.
"O q—"
Tohka soltou uma voz cheia de
espanto.
"...!?"
Mas até mesmo mais surpreso estava
Shidou.
Não era pelas roupas e espada de
Tohka desaparecerem. Ele havia ouvido falar disso por Kotori, mesmo que ainda
duvidasse um pouco.
Se alguma coisa era porque Tohka
falou enquanto eles ainda estavam se beijando, então o lábio que estava em
contato se contorceu, fazendo com que ele entrasse em algum tipo de estado
caótico que não podia ser expresso pelo vocabulário de Shidou.
—O corpo de Tohka ficou mole,
caindo em direção ao chão.
Na consciência turva de Shidou,
enquanto hesitava levemente, abraçou Tohka antes do seu corpo cair. Fracamente.
Timidamente.
Com as cabeças para baixo, os
lábios e corpos unidos, os dois desceram.
O traje de Tohka se transformou em
partículas de luz, deixando para trás um rastro.
Aquilo podia ter sido uma cena de
uma fantasia.
Entretanto, Shidou não tinha espaço
para se preocupar com aquilo.
Caindo lentamente enquanto apoiava
Tohka— com seu corpo embaixo, pousaram no chão.
Continuaram sobrepostos daquele
jeito por um tempo,
"Pwua...!"
Como se respirando, os lábios de
Tohka se separaram e ela levantou o corpo.
"D..., d-d-d-d-d-desculpe
Tohka! Me disseram que esse era o único jeito...!"
Shidou imediatamente pulou quando
Tohka afastou-se do seu corpo, pulando para trás e ao mesmo tempo envolvendo
seu corpo, terminando com um salto dozega[3] maravilhoso.
Bem, pra ser preciso, Tohka foi
quem beijou, mas de alguma maneira ele sentiu como se aquele não fosse o
problema.
Entretanto, vários segundos
passaram, mas ela não pisou na cabeça de Shidou nem o amaldiçoou.
"...?"
Pensando que aquilo era estranho,
levantou a cabeça.
Tohka estava simplesmente sentada
ali com um olhar misterioso no rosto, tocando o lábio com o dedo.
Ou melhor, antes disso—
"Pwua...!?"
O rosto de Shidou ficou vermelho
como se ele estivesse para ter um sangramento nasal e ele endureceu-se.
Com o traje desmoronando em
pedaços, Tohka estava em um estado seminu que era embaraçoso só de olhar.
"—!"
A reação de Shidou pareceu ter
feito Tohka notar aquilo. Ela rapidamente cobriu o peito.
"N-N-N-Não Tohka, eu estava
apenas—"
"N-Não olhe, idiota...!!"
Mesmo não sabendo o significado do
beijo, parecia que ela tinha um senso normal de constrangimento. Corando, Tohka
encarou.
"De-Desculpe...!"
Afobado, fechou os olhos.
"Isso não é bom! Você está
bisbilhotando, não está!?"
"E-Então o que devo
fazer...!"
Shidou disse e depois de alguns
instantes, todo seu corpo sentiu uma sensação morna mais uma vez.
"Eh—"
Involuntariamente, seus olhos
fechados abriram. Na frente dos seus olhos estavam os cabelos puramente pretos
de Tohka e seus ombros nus. O ponto era— seus corpos juntaram-se
confortavelmente.
Na frente
dos seus olhos estavam os cabelos puramente pretos de Tohka e seus ombros nus.
"...Agora você não pode
ver."
"A-Aahhh..."
Está mesmo tudo bem? Enquanto
pensava aquilo e incapaz de mover o corpo, parou firme daquele jeito.
Depois de um tempo.
"...Shidou."
Tohka soltou uma voz enfraquecida.
"O que foi?"
"Você vai... me levar em um
encontro novamente...?"
"Sim. Algo assim eu te levo à
qualquer hora."
Shidou afirmou enfaticamente.