Parte 1
"Bem, sim, normalmente eles
fecham os colégios para alguma coisa assim..."
Shidou andou pela rua íngreme que
se estendia na frente do colégio enquanto coçava a parte de trás da cabeça.
Aquele era o dia seguinte após ter
nomeado o Espírito Tohka.
Shidou foi para o colégio como
sempre, e ao ver o portão rigorosamente fechado e o prédio do colégio reduzido
á uma pilha de destroços, suspirou com a sua idiotice.
Ele estava lá quando o colégio
havia sido destruído, então qualquer um presumiria que seria fechado... mas
quando encarou um cenário tão irrealista daquele, era possível que sua mente
inconscientemente tenha desprendido-se da realidade.
Além disso, ele havia passado toda
a noite anterior em uma reunião com os outros, revendo o vídeo de sua conversa
com Tohka e refletindo sobre isso, então sua capacidade mental deve ter caído
pela falta de sono.
"Ahh... Acho que pelo menos
deveria fazer algumas compras então."
Soltando um único suspiro, virou
para a direção contrária ao caminho de casa.
Era verdade que os ovos e o leite
haviam acabado, então simplesmente voltar diretamente para casa não pareceria
tão estranho.
Havia um sinal de "Não
Entre" na frente da rua.
"Oh, a rua está
fechada... ?"
Mas mesmo que o sinal não estivesse
lá, estava claro como o dia que a rua estava inutilizável.
O chão de asfalto havia se tornado
uma bagunça, o concreto estava todo desintegrado e até mesmo o prédio de
inquilinos havia desabado.
Parecia que uma guerra havia
acontecido aqui.
"—Ah, isso é..."
Ele se lembrou daquele lugar. Era
parte da zona de spacequake onde ele conheceu Tohka pela primeira vez. Parecia
que as forças de reparação não haviam lidado com aquilo ainda, já que a cena
desastrosa continuava a mesma da de dez dias atrás.
"......"
Quando se lembrou da aparência da
garota na sua mente, soltou um breve suspiro.
—Tohka.
O Espírito— a garota que gerou
aquele desastre— que não tinha nome até ontem.
Ontem, depois de conversar com ela
por muito mais tempo do que nunca, a premonição de Shidou foi confirmada.
Aquela garota realmente possuía uma
quantidade de poder inimaginável.
Até o ponto onde todas as
organizações do mundo concordariam que ela fosse uma ameaça.
A cena exposta antes era a prova
daquilo.
Uma coisa dessas realmente não
podia ser largada por si só.
"...dou..."
Mas ao mesmo tempo, não havia como
ela usar aquele poder irresponsavelmente, como um monstro impiedoso e
descuidado.
"Ei, Shidou..."
...Bem, esses pensamentos estavam
girando na sua cabeça, então antes que percebesse, acabou andando de volta para
os portões do colégio.
"...Pare de me ignorar!"
"—Huh?"
Uma voz soou— do outro lado da área
fechada.
Shidou inclinou a cabeça, confuso.
Como se dividindo o ar gelado, era
uma voz bonita.
Era parecida com uma voz que já
tinha ouvido em algum lugar... Para ser mais específico, no dia anterior no
colégio.
... Era uma voz que ele não
esperava ouvir em uma hora e lugar daqueles.
"U-Umm—"
Shidou focou o olhar naquela
direção enquanto comparava a voz que havia acabado de ouvir com suas próprias
memórias.
E então, seu corpo congelou.
Ela estava bem à frente dos seus
olhos.
Uma garota estava levemente
inclinada no topo de uma montanha de destroços, vestindo um vestido que
claramente não se encaixava com o seu redor.
"T-Tohka!?"
De fato, a não ser que a mente ou
os olhos de Shidou estivessem pregando uma peça nele, a garota era sem dúvida o
Espírito que havia encontrado no colégio no dia anterior.
"Então você finalmente notou,
ba~ka, ba~ka."
O rosto da garota, lindo o bastante
para dar calafrios na espinha de qualquer um, estava tingido de
descontentamento.
Ela chutou a pilha de destroços com
um *thump* e se aproximou de Shidou ao longo do asfalto quase intacto.
Provavelmente por estar no seu
caminho, Tohka chutou o sinal de 'Não Entre' com um grunhido e parou na frente
de Shidou.
"O-O quê você está fazendo,
Tohka...?"
"...Nu? O que quer
dizer?"
"Por que está em um lugar como
esse...!?"
Shidou olhou para trás dele
enquanto gritava, chamando a atenção do vizinho que estava passeando com o
cachorro.
Ninguém estava se refugiando em
algum abrigo. Isso significa que nenhum alarme de spacequake soou.
Basicamente, aquilo significava que
nem a <Ratatoskr> nem a AST havia percebido nenhum antichoque antes do
Espírito aparecer.
"Mesmo que me pergunte o por
que..."
Entretanto, a própria pessoa não
parecia ligar nem um pouco para essa estranha situação. Ela então cruzou os
braços, como se não soubesse motivo do porque que Shidou estava fazendo tanta
confusão sobre aquilo.
"Não foi você quem me
convidou, Shidou? Para... um encontro."
"O qu—"
Os ombros de Shidou estremeceram
com sua declaração descuidada.
"V-Você se lembra...?"
"Hm? O que foi, você acha que
eu sou uma idiota ou algo do tipo?"
"Não, não foi isso que quis
dizer..."
"—Hmph, tanto faz. O que é
mais importante, Shidou, vamos logo nesse tal de encontro. Encontro encontro
encontro encontro."
Tohka continuou repetindo 'encontro
encontro' numa só entonação.
"E-Eu entendi! Eu já entendi,
então pare de repetir essa palavra!"
"Eh, por quê? ...Ah, Shidou,
não me diga que você tirou vantagem por eu não saber o que significava e me
ensinou uma palavra indecente e obscena?"
Com as bochechas vermelhas, Tohka
levantou as sobrancelhas.
"—! E-Eu não fiz isso! É uma
palavra completamente pura!"
Shidou falou enquanto coçava a
bochecha.
Era mais ou menos mentira. Desde
que os humanos foram concedidos, era uma palavra que poderia ser extremamente
impura.
Shidou virou com um olhar
inconfortável.
As mulheres estavam sorrindo,
olhando para ele como se estivessem vendo alguma coisa encantadora.
Bem, havia também alguma dúvida
misturada no olhar, por causa da aparência estranha de Tohka.
"...Nu?"
Tohka parecia ter notado os olhares
também. Escondeu-se atrás de Shidou e observou-as intensamente.
"...Shidou, quem são elas?
Inimigas? Devo matá-las?"
"Hu... Huh!?"
Os ombros de Shidou tremeram assim
que Tohka deixou escapar pensamentos tão perigosos sem aviso.
"Não, não, não, por que está
dizendo isso? Elas são só mulheres comuns."
"O que está falando, Shidou?
Esses olhos brilhantes flamejando... não parecem com de aves de rapina? É
impossível elas não estarem mirando em mim. ...Elas podem causar problemas mais
tarde se as deixarmos continuarem vivas. Acho que seria melhor matá-las antes
que isso aconteça."
... Bem, é verdade que seus olhos
estavam brilhando, mas...
Em primeiro lugar, ele teria que
começar um novo tópico de conversa.
"Não se preocupe. Eu não te
falei? Existem vários humanos que não vão te atacar."
"...Hmph."
Mesmo que Tohka ainda não tivesse
baixado sua guarda, pelo menos parou de parecer como se estivesse pronta para
lutar á qualquer momento.
"Tanto faz. Então, sobre o tal
encontro—"
"V-V-Vamos para algum outro
lugar primeiro. Ok?"
Shidou disse para Tohka, que
continuava impassível e foi embora ás pressas.
"Nu. Ei, Shidou, onde estamos
indo!?"
Tohka seguiu logo atrás dele, e
elevou a voz em descontentamento enquanto andava ao seu lado.
Junto com Tohka, Shidou entrou em
um beco deserto e finalmente soltou um suspiro, aliviado.
"Então, você finalmente se
acalmou. Sheesh, você é estranho. O que exatamente há de errado?"
Tohka estreitou os olhos em
desapontamento.
"Tohka... o que aconteceu
depois de tudo ontem?"
Havia um monte de coisas que queria
perguntar, mas a primeira coisa que saiu da sua boca foi essa.
Os lábios de Tohka se moveram com
um olhar sério.
"Nada na verdade, foi o mesmo
de sempre. Eu balancei minha espada que não cortaria nada, atirei com o meu
canhão que não acertaria em nada. — E finalmente, meu corpo simplesmente
desapareceu."
"... Desapareceu?"
Shidou inclinou a cabeça, confuso.
Pensando nisso, Kotori e os outros
também tinham um palpite desses, mas não entendiam nem um pouco como isso
acontecia.
"É simplesmente a passagem
desse mundo para um lugar diferente."
"A-Alguma coisa assim existe?
...Que tipo de lugar é esse?"
"Eu não sei."
"...O quê?"
Shidou franziu as sobrancelhas com
a resposta.
"No momento em que vou para
lá, eu entro naturalmente num estado parecido com o sono. Pelo que consigo
lembrar, parecia como se eu estivesse flutuando em um lugar escuro. — É como se
caísse no sono."
"Então você vem para esse
mundo quando acorda?"
"Não é bem assim."
Tohka balançou a cabeça e
continuou.
"Em primeiro lugar, eu nunca
pude escolher quando vir para cá. Eu simplesmente sou mandada aleatoriamente e
fico presa desse lado. Bem, acho que é como ser acordada á força."
"......"
Shidou segurou a respiração.
Ele entendeu que o spacequake
acontecia quando o Espírito aparecia nesse mundo, mas se o que Tohka disse
fosse verdade, então não era por vontade própria que eles apareciam.
Nesse caso, não seriam os
spacequakes iguais á acidentes?
Forçar a responsabilidade em Tohka—
nos Espíritos— é irracional demais, não importa como encare isso.
Nesse momento, mais uma pergunta
passou pela cabeça de Shidou.
Havia uma parte daquela história de
Tohka que não se encaixava muito bem.
"... O que quis dizer com
'pôde'? Hoje é diferente?"
"......"
As bochechas de Tohka tremeram, a
boca inclinou em uma carranca e ela desviou o olhar para um monte de destroços.
"Hmph, c-como se eu
soubesse."
"Responda-me direito. Pode ser
alguma coisa realmente importante."
Mas Shidou continuou pressionando.
Se Tohka veio para esse mundo por
si própria hoje, então esse deve ser o motivo de não ter ocorrido nenhum
spacequake.
Mas por algum motivo, as bochechas
de Tohka estavam levemente rosadas e seu olhar, afiado.
"Você é tão persistente. Essa
conversa já acabou."
"Não, mas—"
Shidou começou a falar, mas Tohka
bateu com um pé no chão.
O asfalto em que havia pisado
instantaneamente se iluminou e feixes de luz radiaram dele.
"Whoa...!?"
Quando a luz tocou Shidou,
espalhou-se em fogos de artifício, crepitando.
"—Vamos, apresse-se e diga o
que encontro significa." Tohka disse impacientemente.
"...Gah."
Contra esse tom de voz
intransigente, Shidou não podia fazer nada além de ficar em silêncio.
Se perguntasse mais alguma coisa,
iria acabar em um raio de luz igual á ontem.
Shidou passou um tempo murmurando
consigo mesmo antes de falar.
"... É quando um garoto e uma
garota saem e se divertem juntos... eu acho."
"Então é isso?"
Tohka o encarou, como se assombrada
com o quanto decepcionante aquilo era.
"S-Sim..."
Mesmo que tenha dito aquilo, ainda
estava perturbado porque também nunca havia ido á um encontro.
Quer dizer, sabia de algumas coisas
que viu em mangás e doramas, mas essa era a extensão do seu conhecimento.
Mas Tohka cruzou os braços acima do
peito.
"... Então, basicamente, você
estava dizendo ontem que queria se divertir comigo, os dois juntos?"
"... B-Bem... sim... eu
acho."
Por algum motivo aquilo era 20%
mais vergonhoso quando dizia claramente. Respondeu enquanto coçava
estranhamente a bochecha.
"Entendo."
A expressão de Tohka se iluminou
levemente enquanto acenava e deu um passo largo para fora do beco.
"E-ei, Tohka—"
"O que, Shidou? Nós não
estamos indo nos divertir?"
"—! Você está bem com
isso...?"
"Você não disse que
queria?"
"Ah... Bem, é verdade,
mas..."
"Então vamos. Ou então eu
posso acabar mudando de ideia." Tohka disse enquanto voltava a andar.
E então, Shidou percebeu uma
questão importante.
"T-Tohka! Essas roupas suas
não vão funcionar...!"
"O quê?"
Os olhos de Tohka arregalaram em
surpresa quando Shidou disse isso.
"O que exatamente há de errado
com meu traje? Essa é minha armadura e o meu território. Não vou tolerar seus
insultos."
"Você se sobressai demais
desse jeito...! Até a AST vai descobrir!"
"Nu."
Parecendo notar que aquilo seria
mesmo problemático, Tohka fez uma expressão desagradável.
"O que devo fazer então?"
"Bem, você tem que trocar de
roupa, mas..."
Uma gota de suor desceu pela
bochecha de Shidou. Não havia nenhuma roupa feminina ali e levá-la até a loja
também seria complicado.
Além disso, sua carteira não estava
assim tão cheia.
Enquanto ele escaneava seu cérebro
tentando achar alguma ideia, Tohka falou impacientemente.
"Que tipo de roupa seria bom?
Simplesmente me diga isso."
"Eh? Ah..."
Mesmo que perguntasse que tipo, ele
não poderia pensar em nada assim de uma hora pra outra.
Mas, nesse momento, um uniforme
familiar passou no canto da sua visão.
"Ah..."
Uma aluna que ele não reconhecia
passou pela rua com uma cara sonolenta.
Era provavelmente uma aluna que,
por algum motivo, também perdeu o aviso de que a escola estava fechada,
exatamente como Shidou.
"Tohka, ali. Roupas daquele
tipo provavelmente serviriam."
"Nu?"
Tohka olhou na direção que Shidou
estava apontando e botou a mão na cintura.
"Hmm, entendi. Então isso
serviria huh?" disse Tohka.
Ela levantou levemente o dedo
indicador e o médio da mão direita juntos.
Então, uma bola preta de luz
apareceu da ponta dos seus dedos, apontando na direção da aluna.
"Espere, o que você acha que
está fazendo!?"
Afobado, Shidou segurou a mão de
Tohka.
Nesse momento, o tiro de fotosfera
dos dedos de Tohka roçou no cabelo da garota e bateu na parede atrás dela.
Um lento *thunk* soou e pequenos
fragmentos da parede se espalharam ao redor.
"Eek...!?"
Os ombros da garota tremeram com
aquela cena e ela olhou freneticamente ao seu redor.
Mas, como se concluindo que era por
estar meio sonolenta, balançou a cabeça, confusa, e foi embora.
"O que está fazendo? Você me
fez errar."
"Não é isso que deveria estar
dizendo!!!!! Essa é minha fala!"
"Eu ia atordoar a garota e
levar suas roupas, mas..."
Tohka inclinou a cabeça como se
perguntando o que havia de errado com aquilo.
Shidou soltou um suspiro profundo
do fundo do seu estômago e colocou a mão na testa.
"Ouça, Tohka. Você não pode
atacar as pessoas. Simplesmente não pode."
"Por que não?"
"... Você não fica incomodada
quando a AST te ataca? Escute-me — você não devia fazer coisas que as pessoas
não vão gostar."
"...Hmpf."
Os lábios de Tohka estreitaram em
desacordo quando Shidou disse aquilo.
Em vez discordar com o que ele
disse, parecia que ela estava chateada com o jeito que ele havia falado com
ela, como se estivesse falando com uma criança.
"...Eu entendi. Terei isso em
mente." Tohka disse em consentimento, com aquela expressão.
Em seguida, levantou levemente o
rosto como se lembrando de algo e disse, "—Parece que é inevitável. Vou
ter que lidar com minhas roupas eu mesma, de alguma forma."
Com isso, estalou os dedos.
Assim que fez isso, o vestido que
usava começou a dissolver no ar... Ou parecia, mas então, como se sendo
reposto, partículas de luz se aglomeraram ao seu redor, colando em torno do seu
corpo e formando uma nova silhueta.
Depois de alguns segundos, Tohka
estava lá, usando o mesmo uniforme do Raizen High School que aquela garota
estava usando.
"O...O-O que é isso?"
"Eu abandonei meu traje e
criei uma nova roupa. Só vi de relance, então pode estar faltando os detalhes,
mas isso não deve ser um problema." Tohka disse enquanto cruzava os braços
com um 'hmph'.
Shidou gritou e Tohka balançou as
mãos como se dizendo 'entendi, entendi'.
"Mais importante, onde estamos
indo?"
"S-Sobre isso—"
Shidou tocou a orelha direita, como
se procurando por ajuda.
Então, ele finalmente notou.
Naquela hora, Shidou não tinha nenhum intercomunicador na orelha.
E é claro, não havia nenhuma câmera
voando por aí.
De qualquer modo, a tripulação do
<Fraxinus> de Kotori não detectou a presença de Tohka.
Em outras palavras, eles estavam
completamente sozinhos.
Shidou se sentiu um pouco tonto.
A pressão fez seu estômago doer.
Havia uma diferença enorme quando
Kotori e Reine não estavam atrás dele para dá-lo um aviso decente.
"O que há de errado,
Shidou?"
"...Nada."
Shidou suspirou profundamente
algumas vezes e começou a andar rigidamente. Pouco depois, Tohka falou.
Tohka:
"—Shidou. Você está andando rápido demais. Vá um pouco mais devagar."
Shidou: "...A-Ah, desculpe..."
Shidou: "...A-Ah, desculpe..."
"—Shidou. Você está andando
rápido demais. Vá um pouco mais devagar."
"...A-Ah, desculpe..."
Ajustou seus passos depois de isso
ter sido apontado. Seus passos eram diferentes para começo de conversa, então
era simplesmente natural que Shidou acabasse indo na frente... Era de alguma
forma um sentimento estranho.
Aquilo certamente era como devia andar
junto de alguém.
Para Shidou que nunca havia ido á
lugar nenhum com uma garota na vida, era uma sensação nova (por sinal, Kotori
saltando e fazendo cambalhotas na frente de Shidou não podia ser usado como
referência.)
Pensando nisso— Shidou deu uma olhada
para Tohka andando atrás dele.
O que ele viu não era um monstro
que poderia dividir o céu e a terra com o balance de uma espada, mas mais uma
garota normal.
Quando deixaram o beco e entraram
numa rua larga com várias lojas alinhadas uma ao lado da outra, Tohka estreitou
as sobrancelhas e olhou nervosamente ao seu redor.
"...O-O que há com o número de
pessoas aqui. Elas estão planejando uma guerra!?"
Parecia que ela estava surpresa com
o número incomparavelmente maior de carros e pessoas do que estava habituada a
ver. Enquanto remanescia alerta em todas as direções, Tohka disse com uma voz
séria.
Então, da ponta dos dedos de ambas
as mãos, um total de dez bolas de luz apareceram. Shidou rapidamente parou-a.
"Como eu disse! Não tem
ninguém querendo tirar sua vida aqui!"
"...Sério?"
"Sério."
Shidou então disse, e Tohka olhou
ao seu redor cuidadosamente mais uma vez, extinguindo as bolas de luz por hora.
Então— inexplicavelmente, o cuidado
que tingia o rosto de Tohka desapareceu.
"Huh...? Ei, Shidou, que cheiro
é esse?"
"...Cheiro?"
Fechou os olhos e cheirou ao seu
redor, e como Tohka havia dito, uma fragrância persistia no ar.
"Ahh, é provavelmente
daquilo."
Dizendo isso, ele apontou para a
padaria à direita.
"Ooohh."
Falando somente isso, Tohka encarou
naquela direção.
"...Tohka?"
"Nu, o que foi?"
"Quer entrar?"
"......"
Shidou perguntou e as pontas dos
dedos de Tohka se contorceram enquanto sua boca curvava em uma carranca. Então,
com um instante miraculoso, *guururu*, o estômago de Tohka roncou. Parecia que
até mesmo Espíritos ficavam com fome.
"Se Shidou quer entrar então
eu vou ter que ir junto."
"...Eu quero entrar. Eu
realmente quero entrar."
"Se é isso então eu não tenho
escolha!"
Excessivamente animada, Tohka
respondeu e triunfantemente abriu a porta da padaria.
-
"......"
Escondendo-se nas sombras das
paredes, Origami encarou fixadamente o casal conversando na frente da padaria,
e sem a expressão mudar nem um milímetro, soltou um breve suspiro.
Ela havia ido ao colégio somente
para descobrir que estava fechado, e voltando para casa encontrou Shidou
andando com uma aluna.
Só isso já era uma situação
extremamente séria. Como uma amante, ela silenciosamente começou a
persegui-los.
Entretanto— havia um problema ainda
maior que aquele.
A aluna, Origami a reconheceu.
"—Espírito."
Sussurrou silenciosamente.
Isso mesmo. Monstro. Anormalidade.
A calamidade que iria destruir o mundo.
A coisa que não era humana, a qual
o time de Origami devia aniquilar, estava usando um uniforme e andando ao lado
de Shidou.
"......"
Mas se pensasse calmamente naquilo,
uma coisa daquelas não era possível.
Antes do Espírito aparecer, como
repercussão, um terremoto de níveis anormais seria detectado. Não tinha como a
quadra de observação da AST houvesse perdido aquilo.
Mas, no caso do alarme de
spacequake ter soado como no dia anterior, também deveria ter alcançado
Origami.
Origami tirou o celular da mochila
e abriu-o. Não havia nenhuma mensagem.
Nesse caso, aquela garota não era o
Espírito afinal de contas, mas simplesmente alguém que tinha uma aparência
muito parecida.
"...Não tem como esse ser o
caso."
Silenciosamente, seus lábios se
moveram. Não havia como Origami se esquecer do rosto do Espírito.
"......"
Origami apertou alguns botões do
celular, abrindo a lista de contatos e ligando para um dos números.
Então, "— AST, Sargento Mestre
Tobiichi. A-0613."
Deu sua posição e código de
identidade. E então foi direto ao assunto.
"Mande para mim uma máquina de
observação."
Parte 2
"Ah, Reine~ Se você não quer
isso então eu quero."
"...Nn, ok. Vá em
frente."
Kotori estendeu o garfo e enfiou na
framboesa do prato colocado na frente de Reine. Ela então lentamente trouxe o
garfo à boca, saboreando a sensação doce e azeda.
"Mmm, yum. Por que você não
gosta disso, Reine?"
"...Não é azedo?"
Dizendo isso, Reine acabou com o
chá de maçã cheio de açúcar em um gole.
Naquele momento, elas duas estavam
em um café, na Avenida Tenguu.
Kotori estava usando xuxas brancas
e seu uniforme escolar, enquanto Reine usava um cutsew levemente colorido e
jeans.
Kotori tinha ido á escola como
sempre, mas, por causa do spacequake de ontem, a escola de Kotori havia sofrido
alguns danos, então estava fechada.
De alguma maneira, ir diretamente
para casa depois disso parecia estranho de algum jeito, então ela chamou Reine
para um lanche agradável.
"...Oh, é a oportunidade
perfeita, então me diga."
Reine abriu a boca como se
lembrando de algo.
"O~quê?"
"...Desculpe, essa é uma
questão tão básica, mas Kotori, por que você escolheu ele como negociador com
os Espíritos?"
"Mm..."
Ouvindo a pergunta de Reine, Kotori
franziu as sobrancelhas.
"Promete não contar a
ninguém?"
"... Prometo."
Em voz baixa, Reine acenou. Vendo
isso, Kotori consentiu e respondeu. Murasame Reine era uma mulher que
entenderia qualquer coisa que dissesse.
"Na verdade, eu não sou
parente de sangue do meu irmão. É uma armação bem parecida com um galge."
"...Hm?"
Sem parecer nem surpresa ou achando
graça, Reine inclinou a cabeça levemente. Ela rapidamente entendeu as palavras
de Kotori e fez uma pose que parecia perguntar 'o que isso tem a ver com a
minha pergunta?'.
"É por isso que eu te amo,
Reine~"
"......"
Reine tinha uma expressão
mistificada.
"Não se preocupe~. ...Então,
continuando. Eu imagino quantos anos eu tinha, foi numa idade que eu nem me
lembro, mas onii-chan foi abandonado pela sua mãe verdadeira e nossa família o
adotou ou alguma coisa assim. Foi há tanto tempo que eu não me lembro direito,
mas parece que ele era bem problemático quando pegamos ele. Era ao nível em que
parecia que ele poderia simplesmente se suicidar."
"......"
Por algum motivo, as sobrancelhas
de Reine moveram-se em surpresa.
"O que há de errado?"
"...Nada, por favor,
continue."
"Nn. Bem, não havia nada que
pudéssemos fazer sobre isso. Para alguém que não tinha nem dez anos, uma mãe
era uma existência absolutamente essencial, então para o meu irmão, aquilo era
provavelmente um acontecimento maior, que negava completamente a sua
existência. — Mas, bem, parecia que depois de alguns anos, sua condição se
estabilizou."
Exalando audivelmente, ela
continuou.
"Provavelmente por causa
disso, onii-chan se tornou estranhamente sensitivo em relação ao desespero
dentro das pessoas."
"...Desespero?"
"Mm. Alguma coisa tipo várias
pessoas rejeitando alguém— alguém que pensa que nunca será amado por mais
ninguém. Bem, basicamente como ele era antes. Se houver alguém com uma
expressão melancólica, mesmo que seja um completo estranho, ele provavelmente
iria ajudá-lo sem pensar duas vezes."
E é por isso, seus olhos disseram
enquanto encaravam para baixo.
"Então eu pensei 'se é ele'. —
O único que eu podia pensar que poderia animar o espírito era onii-chan."
Kotori então disse e Reine falou
“...Entendo." e abaixou os olhos.
"...Mas o que eu quero ouvir
não é esse tipo de motivo emocional."
"......"
Com as palavras de Reine, as
sobrancelhas de Kotori moveram-se em surpresa.
"Então o que quer dizer?"
"...É irritante quando você dá
uma de desentendida. Eu não acredito que você não tenha entendido. — O que
exatamente ele é?"
Reine era a melhor analisadora da
<Ratatoskr>. Usando seus realizers especializados, não importava a
estrutura do material, mas através da distribuição de temperatura e cálculo de
ondas cerebrais, ela podia captar muito bem as sutilezas das emoções de alguém.
—Até mesmo os poderes escondidos e
características dentro de alguém.
Kotori deu um suspiro audível.
"Bem, no momento em que deixei
onii-chan com Reine eu meio que sabia que isso iria acontecer~"
"...Ahh, desculpe mas eu o
analisei um pouco. ...pensei que era estranho envolver uma pessoa normal nessa
estratégia sem nenhum motivo sólido."
"Mm, eu não ligo, na verdade~.
Eventualmente isso seria algo que provavelmente todos saberiam, de qualquer
maneira~"
Junto com o som de uma porta
abrindo e da voz da garçonete dizendo "Bem-vindos", Kotori encolheu
os ombros.
Ela então pegou o canudo enfiado
dentro do copo na sua frente e bebeu o resto do suco de Mirtilo em um gole.
Então—
"Puufghfghghhfgh!?"
Vendo o casal que havia acabado de
entrar na loja, sentando-se na mesa atrás de Reine, o suco que havia bebido que
estava na sua boca foi jogado com uma força incrível.
"......"
De alguma maneira parecia que o
casal não havia notado, mas Reine, sentada á frente de Kotori, não estava
protegida do impacto. Desprotegida, ela foi recoberta. Bem, basicamente ela
ficou encharcada.
"Desculpa, Reine..."
"...Nn."
Silenciosamente, Kotori se
desculpou, e como se nada tivesse acontecido, Reine pegou um lenço do bolso e
secou a mão.
Silenciosamente,
Kotori se desculpou, e como se nada tivesse acontecido, Reine pegou um lenço do
bolso e secou a mão.
"...O que foi, Kotori?"
Respondendo a pergunta de Reine,
Kotori apontou silenciosamente para detrás de Reine.
"...?"
Reine se virou — e subitamente,
parou de se mover.
Alguns segundos depois, sua cabeça
lentamente virou para sua postura original, enquanto levava o chá de maçã á
boca.
Então, *pffft*, ela jogou o chá na
direção de Kotori.
"...Isso foi surpreendente
demais."
Talvez aquele fosse o jeito de
Reine mostrar sua agitação.
Mas era o esperado. Afinal de
contas, atrás de Reine o irmão de Kotori, Itsuka Shidou, estava sentado junto
com uma garota.
E isso não era tudo. A dita garota
era aquela que o grupo de Kotori chamava de calamidade, o Espírito.
"Ehhhh... o que está
acontecendo?"
Kotori secou o rosto com o lenço
que Reine havia passado à ela enquanto perguntava com a voz baixa.
Por sinal, o lenço de Reine tinha
uma imagem de um urso estampado bem no meio. Por causa das manchas do suco de
mirtilo e do chá de maçã, ficou com uma aparência parecida com o de um Kikaider.
Ela procurou nos bolsos e olhou no
celular. Não havia mensagens da <Ratatoskr>. Isso significa que eles não
haviam notado nenhuma perturbação de onde o Espírito havia aparecido.
Mas, aquela era sem dúvidas o
Espírito, Tohka. Não tinha como existir garotas tão bonitas assim.
"Tem alguma maneira do
Espírito aparecer sem que nós notássemos?"
"...Quais as chances de ser
alguém que somente se parece muito?"
Kotori pensou por um momento sobre
as palavras de Reine.
Mas imediatamente balançou a
cabeça.
"Se esse é o caso, então
onii-chan estaria saindo com uma garota comum. Se você me perguntasse se isso
ou um Espírito aparecer silenciosamente é mais aceitável... então com uma
margem bem pequena, seria a última."
"...Entendi."
Aquele era um comentário bem severo,
mas Reine aceitou prontamente.
"...Mas se esse é o caso,
então é problemático. Eu imagino se Shin pode lidar com o Espírito
sozinho."
"Nn..."
Então, enquanto colocavam as mãos
sobre a boca e sussurravam, ouviram a conversa dos dois que estavam sentando atrás
de Reine.
"Huh, então está tudo bem em
simplesmente escolher o que comer desse livro?"
"Sim, isso mesmo."
"Pão de cogumelo. Não tem
nenhum pão de cogumelo?"
"Uhh, acho que isso é meio...
Ou melhor, você não continuou comendo isso na padaria?"
"Quero comer de novo. Que
merda aconteceu com esse triturador... a dependência poderosa... se isso fosse
liberado imprudentemente no mundo então o resultado seria catastrófico...
pessoas ficariam tremendo, com sinais de abstinência e sem dúvida começariam
uma guerra pelos cogumelos."
"Impossível."
"Grr, tanto faz. Vamos começar
a descoberta de um novo sabor."
"Sim Sim... ma eu só tenho
3000 yenes sobrando."
"Nu? O que é isso?"
"Estou dizendo que por você
ficar comprando coisas para comer, meu dinheiro está desaparecendo!"
"Muu, esse é um mundo difícil.
Bem, então, acho que não tem outro jeito. Espere um pouco. Vou arrecadar alguns
fundos."
"Es...espere! O que você está
planejando fazer!?"
Ouvindo aquela conversa, Kotori deu
um longo suspiro.
Tirando as xuxas pretas do bolso,
prendeu o cabelo.
Era o jeito de Kotori mudar sua
mentalidade. Agora, Kotori havia se transformado da irmãzinha fofa de Shidou
pra o modo Comandante.
Então, abrindo o celular,
conectou-se com a <Ratatoskr>.
"...Ahh, sou eu. É uma
emergência. — Inicie com o código estratégico F-08•Operação<Feriado de
Tenguu>. Todos os tripulantes, em suas posições imediatamente."
Ouvindo isso, o rosto de Reine se
contorceu.
Esperando até a chamada de Kotori
terminar, aumentou a voz.
"...Tem certeza disso,
Kotori?"
"Sim. Essa é uma situação em
que não podemos dar á ele nenhum comando. Não tem outro jeito."
"...Entendo. Já que é assim—
então é parte da Rota C. ...Hmmm, então já vou indo. Vou negociar com as lojas
antes do tempo."
"Por favor."
Dizendo isso, Kotori tirou um Chupa
Chups do bolso e colocou na boca.
Parte 3
Comparando os números escritos no
recipiente da sua mão com o que continha na sua carteira, Shidou suspirou. Ele
não tinha muito sobrando, mas felizmente era uma quantidade que podia pagar
pelo menos.
"Vamos Tohka."
"Nn, já?"
Tohka disse e começou a imaginar.
Shidou rapidamente levantou como se estivesse com pressa. Ela não estava mais
emanando aquela hostilidade dura aos clientes ao redor. Parecia que havia se
acostumado completamente com pessoas ao seu redor.
Por ora, Shidou estava aliviado,
enquanto colocava o recipiente junto com os três papeis de conta que acabaram
com 90% do seu dinheiro restante na bancada.
"Gostaria de pagar, por
favor."
Shidou disse em direção ao
empregado parado atrás da bancada—
"...!?"
Franziu as sobrancelhas e deu um
passo para trás.
Era porque, o empregado que estava
parado lá era...
"...Obrigado pela
preferência."
Ele reconheceu a mulher com
olheiras fundas sob o olho que parecia excessivamente sonolenta.
"O-O-O-O..."
"Nn? O que há de errado,
Shidou, um inimigo!?"
Tohka virou o rosto agitado em
direção ao visivelmente afobado Shidou.
"N-não, não é isso..."
Negou debilmente a pergunta de
Tohka.
Então, Shidou encarou a
trabalhadora usando um uniforme extremamente fofo com um urso de pelúcia
sentado no seu ombro, os olhos sonolentos brilhando.
No momento pensou ter sentido um
olhar como se dissesse 'se contar á alguém que eu trabalho aqui, eu vou te
matar', mas ele logo percebeu que tinha um significado diferente.
"...Aqui está seu troco e
recibo."
Durante o tempo em que Shidou ficou
chocado, Reine havia rapidamente completado a transação. Ela passou o
recipiente de volta enquanto batia na superfície.
No topo do recipiente, 'Nós vamos
ajudá-lo. Continue o encontro naturalmente' estava escrito.
Em outras palavras, o olhar agora a
pouco era para Shidou continuar o encontro sem deixar Tohka descobrir que eles
se conheciam... provavelmente.
"N-Não se preocupe."
Shidou disse para Tohka enquanto
colocava o recipiente no bolso.
O olhar afiado de Reine voltou ao
seu olhar distraído.
Ela então pegou um único pedaço de
papel colorido da gaveta de registro e deu para Shidou.
'...Isso é um bilhete de rifa para
o distrito de compras. Assim que sair da loja, seguirá na rua e virará à
direita, chegando ao local do sorteio. Se você quiser, por favor, visite."
Além disso, para explicar o local
de forma detalhada, a última parte foi dita claramente.
Shidou coçou a bochecha. Em vez de
'se você quiser', ela estava provavelmente dizendo para definitivamente usá-lo.
Provavelmente funcionaria mesmo se
ela não enfatizasse aquilo.
"Shidou, o que é isso?"
Porque Tohka estava examinando a
rifa com um interesse intenso.
"Você quer ir?"
"Você quer ir, Shidou?"
"...Sim, eu não posso esperar
para ir."
"Então vamos."
Tohka saiu animadamente da loja com
passos largos.
Depois de dar uma leve reverencia á
Reine, Shidou foi atrás dela.
-
"—Bom trabalho, Reine."
Escondida na sombra da bancada,
Kotori levantou depois de confirmar que os dois haviam saído da loja.
"...Eu não consigo me
acostumar com isso, obrigada."
Reine levantou a bainha do uniforme
excessivamente cheio de babados e disse com uma voz monótona.
Aquele era o código estratégico
F-08•Operação <Festival de Tenguu>.
<Ratatoskr> havia considerado
todas as possibilidades e as agruparam em 1000 códigos estratégicos. Aquela era
uma das possibilidades.
No caso do Espírito escapar do
monitoramento e se encontrar diretamente com Shidou— a tripulação do
<Fraxinus> iria se misturar com as pessoas nas ruas e ajudar Shidou das
sombras.
Por esse motivo, a tripulação havia
passado no mínimo um mês aprendendo como agir.
"Fica bem em você. Bem
fofa."
Enquanto lambia um pirulito Kotori
disse, e então tirou imediatamente o celular e chamou um número.
"Ahh, sou eu. Eles acabaram de
deixar a loja. ... Mmmm, seja o mais natural que conseguir. Se estragar com
tudo eu vou ser obrigada a esfolá-lo.”
Transmitindo concisamente, a
informação e a penalidade, desligou.
"O segundo grupo parece estar
de pé. — Vamos ver, devemos voltar para o <Fraxinus>. Mesmo que a gente
não consiga alcançá-los pela voz, devemos pelo menos assistir o vídeo."
"...Sim, vamos fazer
isso."
Ouvindo as palavras de Reine detrás
dela, os cantos da boca de Kotori curvaram para cima.
"Agora— que a nossa batalha do
encontro comece."
-
"Uhm, rifa... acho que é isso."
Quando Shidou e Tohka saíram da
loja e andaram pela rua, viram um espaço com uma mesa grande e uma roda grande
de loteria colocada na mesa.
Havia dois homens usando happi, um
parado ao lado da roda de loteria e dando os vencedores. Atrás dele, coisas que
pareciam ser os prêmios como bicicletas e sacos de arroz estavam alinhados. Já
havia algumas pessoas na fila. "..."
Shidou coçou a bochecha.
Ele só se lembrava fracamente...
Mas além dos homens usando happi, parecia se lembrar de ver o rosto dos
clientes da fila no <Fraxinus> também.
"Oooh!"
Mas não tinha como Tohka se
importar com alguma coisa assim. Agarrando o bilhete da rifa que recebeu de
Shidou (ou melhor, como parecia que ela realmente queria aquilo, ele entregou à
ela), seus olhos brilharam.
"Vamos entrar na fila."
"Mm."
Então, Tohka assentiu e eles
entraram no final da fila.
Vendo os clientes na frente rodarem
a roda, os olhos e a cabeça dela giraram junto.
Rapidamente, a vez de Tohka chegou.
Imitando os clientes antes dela, Tohka deu o bilhete para o trabalhador e
colocou a mão na roda da loteria. Olhando bem, o trabalhador era o <Bad
Marriage Tired Too Early> Kawagoe.
"Eu simplesmente tenho que
rodar essa coisa?"
Dizendo isso, ela girou a roda da
loteria. Alguns segundos depois, uma bola vermelha de consolação caiu da roda.
"...Que pena, Vermelho é hora
d—"
Quando Shidou começou a falar,
Kawagoe tocou o sino em sua mão.
"Primeiro prêmio!"
"Oooh!"
"H-huh...?"
Shidou enrugou as sobrancelhas,
mas... Vendo um outro trabalhador atrás de Kawagoe pegar um marcador vermelho e
pintar a bola de outro ao lado de 'primeiro lugar' no quadro de prêmios, parou
de falar.
"Parabéns! Primeiro lugar é um
par de bilhetes complementares para a Terra dos Sonhos!"
"Ooh, o que é isso,
Shidou!"
"...Um parque temático? Eu não
ouvi falar disso, na verdade..."
Shidou respondeu duvidosamente para
Tohka que havia recebido os bilhetes, eufórica.
Imediatamente, Kawagoe aproximou o
rosto e sem hesitar, "Tem um mapa desenhado no bilhete, então
definitivamente visite-o! Você devia ir agora mesmo!"
"...C-certo..."
Dando um passo para trás como se se
sentindo pressionado, olhou para o fundo do bilhete. Certamente havia um mapa
ali. E era extremamente próximo dali.
"Sempre houve um parque temático
por aqui...?"
Shidou inclinou a cabeça, mas, oh,
bem, era um comando da <Ratatoskr>. Devia haver alguma coisa lá.
"...Quer dar uma olhada,
Tohka?"
"Mhmm!"
Tohka estava cheia de entusiasmo,
então também devia ir lá e ver.
O lugar era mesmo perto. Do local
da rifa, eram uns cem metros, descendo a viela. Os dois lados ainda estavam
alinhados com prédios, não era um lugar onde alguém pensaria que um parque
temático seria construído.
Porém—
"Oooh! Shidou! Tem um castelo!
Nós vamos lá!?"
Tohka expressava mais ansiedade que
nunca antes, enquanto apontava para frente.
Enquanto pensava que aquilo era
ridículo, Shidou olhou do fundo do bilhete para frente.
"..."
Instantaneamente, Shidou congelou
no lugar.
Certamente, mesmo que pequeno,
havia um castelo estilo faroeste. Na placa, estava cristo 'Terra dos Sonhos'.
...E embaixo disso, estava escrito
'Descansar•Duas horas 4000 yenes ~ Ficar•8000 yenes~'.
Em outras palavras, era um motel
que apenas adultos podiam entrar.
"E-Estamos indo embora,
Tohka...! Eu acidentalmente entrei na esquina errada!"
"Nn? Não é isso?"
"Sim, isso mesmo.
V-vamos."
"Não podemos parar aqui
também? Eu quero entrar."
"...! N-nãnãonão. Hoje não!
Certo!?"
"Muuu... certo."
Ele se sentia mal por desapontar
Tohka, mas aquele lugar era impossível, afinal de contas. Shidou virou o olhar
para Kotori, que estava provavelmente assistindo tudo pelo céu e voltou.
-
"Francamente, percorrer tudo até lá só pra dar meia-volta? Que completo frangote, até mesmo para o meu irmão."
Sentando no assento do comandante
do <Fraxinus>, Kotori encolheu os ombros com um suspiro.
"...Oh, bem, o que você
esperava? Fazer isso subitamente é cruel."
Sentando na parte mais baixa da
ponte, Reine disse enquanto mexia no computador.
Os números mostrados na tela da sua
análise estavam muito mais estáveis que ontem. Mesmo não sendo o suficiente
para serem considerados amantes, os números mostravam que Tohka pensava em
Shidou como um amigo confiável.
Bem, é por isso que tentaram um
padrão levemente drástico.
"Mesmo que eles não fossem até
o final, mesmo que fosse algo como um beijo, então não teria dado em
xeque-mate." Dizendo isso, o palito do pirulito girou e ela exalou com o
nariz.
"...O que devemos fazer
agora."
"Nn, vejamos. Vamos com a
'união' e ‘caminho sem volta’."
"Haa... haa."
Mesmo que não tenham corrido, ele
estava misteriosamente com falta de ar. Enquanto saíam numa rua com várias
lojas e prédios alinhados, acalmou o passo.
"Não está se sentindo bem,
Shidou?"
"Não, não é isso..."
"Então o que há de
errado?"
Tohka inclinou a cabeça e
perguntou.
"... por um momento, meus
pensamentos alcançaram minha irmã, no céu."
"No céu?"
Fazendo uma expressão levemente
surpresa, Tohka disse.
"Ahh. Ela tem sido uma irmã
bem fofa..."
E pensar que ela tem aquela
personalidade dupla, suspirou.
"Entendi..."
Vendo Tohka subitamente exalar uma
aura solene, Shidou percebeu subitamente. O jeito que estava falando agora a
pouco foi como se Kotori houvesse morrido.
"Ahh, não é isso, Tohka.
É—"
As palavras de Shidou pararam.
"Por favor, pegue um."
Subitamente, uma garota segurou um
pacote de edição de bolso na frente dos seus olhos.
Alcançou sua mão e aceitou, e a
garota deu um leve aceno e saiu.
"Shidou? O que é isso?"
"Ahh, isso é chamado de edição
de bolso—"
Dizendo isso, Shidou retorceu o
pescoço.
As edições de bolso dados nas ruas
eram normalmente de propagandas. Entretanto, na embalagem dessa, além de uma
imagem de um casal segurando as mãos e da frase 'Se está feliz então deem as
mãos', não havia mais nada. Era algum tipo de organização religiosa?
Então, enquanto pensava, da loja de
eletrônicos do seu lado direito, ouviu uma voz que reconhecia de algum lugar.
Nas várias sessões de televisão na frente da loja, um programa estranho estava
sendo mostrado.
"O qu...!?"
Shidou estreitou as sobrancelhas e
soltou um som.
Havia vários comentadores em um set
como de um programa de informações que passavam de manhã, mas cada e todos eles
eram rostos que ele lembrava do <Fraxinus>.
"Alguém que não segura as mãos
no primeiro encontro não é bom afinal de contas."
"É mesmo. Se você é um homem,
então pelo menos isso é óbvio."
"......"
Então, enquanto Shidou ficava em
silêncio, os casais ao seu redor aumentaram em um nível sobrenatural.
O que era melhor, todos eles
estavam segurando as mãos intimamente e dizendo periodicamente 'segurar as mãos
é legal!' ou ‘é como se o nosso coração estivesse conectado!’ e coisas
parecidas, como se de propósito.
Sentindo-se levemente enjoado,
Shidou colocou a mão na testa.
—Provavelmente era aquilo afinal de
contas.
Deu um longo suspiro.
Depois de um tempo, Shidou colocou
a edição de bolso no bolso e tentou acalmar seus batimentos cardíacos,
virando-se o olhar para Tohka.
'E-ei, Tohka..."
"Nn, o quê?"
Tohka inclinou a cabeça
interrogativamente. Shidou engoliu em seco e cerrou a mão.
"Uhm, quer... segurar as
mãos?"
"Mãos? Por quê?"
Sem nenhuma má vontade, como se uma
marca de questão pura tivesse flutuado, Tohka perguntou.
De alguma maneira, aquilo parecia
mais vergonhoso do que ser rejeitado diretamente.
"...Você está certa. Eu
imagino por que."
Na verdade, não era algo que podia
explicar. Enquanto olhava para longe, Shidou puxou sua mão—
"Nn"
—para longe, mas a mão de Tohka se
segurou na de Shidou.
"..."
"Nuu? Que cara é essa. Foi
você quem disse para darmos as mãos, Shidou."
"A-ahh."
Balançando a cabeça levemente,
começaram a andar.
"Mm, isso não é ruim, segurar
as mãos."
Dizendo isso, Tohka sorriu e
apertou levemente mais forte.
"...S-sim."
Ele percebeu que só por tocar a
pequena, macia e levemente gelada mão, seu rosto ficou naturalmente vermelho.
Tanto quanto pôde, tentou evitar
pensar sobre o sentimento enquanto andava e pensava sobre outra coisa.
Então, depois de andar por um
tempo, viu um sinal preto e amarelo na frente que simbolizava uma área de
construção.
Homens usando capacetes estavam
ocupados trabalhando.
"Mm... não podemos passar por
aqui, huh. Oh, bem, vamos..."
Shidou virou para a direita, mas
por todo o caminho havia um sinal de não entre colocado.
"Ah?"
Enquanto pensava que aquilo era
suspeito, relutantemente virou para o caminho que veio.
Mas, nessa hora, o caminho que
haviam acabado de vir estava bloqueado com um sinal.
"......"
Não importa o quê, aquilo era
sobrenatural demais. Shidou piscou para os rostos dos trabalhadores.
Com certeza, ele reconheceu alguns
dos rostos. Eram a tripulação do <Fraxinus>.
Sem palavras, Shidou virou em
direção à ladeira e olhou para a rua que se estendia à esquerda.
A única rua que podiam pegar era
aquela.
"...Então estão nos dizendo
para ir por aqui, huh."
"Nu? O que há de errado,
Shidou?"
"Não, nada... Por ora, vamos
tentar ir por aqui?"
"Mm, certo."
Enquanto fazia uma expressão como
se só andar daquele jeito era divertido, Tohka afirmou.
"Agora então, vamos
Shidou!"
"C-certo..."
De um jeito estranho, Shidou andou
na direção do caminho à esquerda.